O mundo antigo está cheio de exemplos de costumes funerários que parecem estranhos hoje, desde a mumificação egípcia e corpos desovados em pântanos a navios crematórios Vikings.
Mas limitações de espaço e preocupações ambientais estão fazendo com que o homem moderno explore novas opções para lidar com os mortos. A mais recente dessas ideias que chegou a costa norte-americana é um processo que utiliza calor, pressão e produtos químicos para liquefazer um corpo em apenas algumas horas, deixando para trás um líquido que pode ser vertido para o sistema de águas residuais.
De lançar restos cremados ao espaço a enterros em túmulos mais comuns, inovações para o fim da vida são uma tendência crescente. Confira:
A funerária Anderson-McQueen, em St. Petersburg, na Flórida, EUA, é atualmente o único lugar nos Estados Unidos onde os clientes podem optar por ter seus tecidos dissolvidos como uma alternativa à cremação tradicional.
O processo, chamado resomação ou “biocremação”, utiliza água aquecida e hidróxido de potássio para liquefazer o corpo, deixando apenas os ossos para trás. Os ossos são então pulverizados como na cremação regular, e os fragmentos ósseos são devolvidos à família numa urna.
Segundo a funerária, eles querem dar opções. Muitas famílias interessadas em cremação também querem reduzir o carbono lançado na atmosfera, e este processo é mais ecológico.
O fogo natural da cremação atinge temperaturas de 871 a 982 graus Celsius, e libera dióxido de carbono, bem como produtos químicos. A resomação requer água de apenas 176 graus Celsius e leva a mesma quantidade de tempo que a cremação tradicional, por isso é menos intensiva em energia. Além disso, restos estéreis podem ser despejados no sistema de esgoto municipal.
O preço base para a cremação de Anderson-McQueen é de R$ 939, e os da resomação, R$ 1.110 (manipulação, transporte e outras taxas trazem os preços de ambos os procedimentos para cerca de R$ 5.130).
Não tanto uma nova invenção, já que retorna às velhas formas, enterros naturais são enterros que ocorrem sem embalsamamento e sem as abóbadas de concreto que as sepulturas da maioria dos cemitérios modernos têm.
Os corpos são envoltos em uma mortalha ou colocados em um caixão biodegradável, e a ideia é que eles se decomponham naturalmente.
O movimento começou em 1998, com a abertura do cemitério todo-natural Ramsey Creek, nos EUA. Hoje, há pelo menos 50 cemitérios naturais no país.
O movimento é impulsionado pela insatisfação com os ritos funerários típicos. A maioria das pessoas, quando descobre o que acontece na sala de embalsamamento, não consegue acreditar no custo, que é ultrajante. Depois, há a preocupação crescente com os efeitos ambientais de todos esses procedimentos.
Com o enterro natural, você está beneficiando o meio ambiente, permitindo que o corpo volte a participar do ciclo da vida.
Para aqueles que preferem nutrir um ambiente mais aquático após a morte, há também a opção “Eternal Reefs” (Recifes Eternos).
O Eternal Reefs cria material de recife artificial a partir de uma mistura de concreto e restos humanos cremados (os ossos esmagados que sobraram de cremações). Essas formações são então colocadas em áreas onde os recifes precisam de restauração, atraindo peixes e outros organismos que transformam os restos em um habitat submarino.
A cremação não é tão verde quanto o enterro natural devido ao processo de combustão, mas é uma ótima oportunidade de não apenas retornar a um ambiente aquático, mas produzir uma nova vida sob o mar.
Existem aqueles que preferem se agarrar à sua velha vida, muito obrigado. Para pessoas com essa atitude (e muito dinheiro), há a criogenia.
Criogenia é o processo de congelamento do corpo de uma pessoa, na esperança de que a ciência médica mais tarde torne possível reanimá-la, com personalidade e memória intacta.
Apesar das inúmeras barreiras para isso, incluindo a toxicidade dos produtos químicos utilizados na tentativa de prevenir danos às células do congelamento, os defensores têm promovido a criogenia desde o final dos anos 60.
Nos EUA, existem pouco mais de 200 pessoas armazenadas congeladas. Os preços variam dependendo da empresa e do procedimento, mas podem chegar até R$ 341.000 para a preservação de todo o corpo. Para a cabeça, cerca de R$ 136.000.
Se a criogenia lhe pareceu muito cara, mas você ainda gostaria de ter uma vida após a morte saída de um filme sci-fi, você pode optar por lançar algumas de suas cinzas para o espaço.
Seus restos mortais cremados pegam uma carona em um foguete indo para as estrelas, numa viagem que é mais simbólica do que prática: devido ao alto custo do voo espacial, apenas 1 a 7 gramas de seus restos são lançados.
De acordo com a empresa Celetis Memorial Spaceflights, que oferece os voos pós-morte, uma viagem que permite que os restos experimentem gravidade zero antes de retornar para a Terra começa em R$ 1.700. Uma chance de orbitar a Terra e, eventualmente, queimar na atmosfera gira em torno de R$ 5.130. Ser lançado à lua ou ao espaço profundo fica entre R$ 17.090 e R$ 21.360, respectivamente.
Não mais é só coisa dos antigos egípcios. Uma organização religiosa chamada Summum, fundada em 1975, oferece serviços de mumificação para pessoas e animais de estimação.
Antes de sua morte em 2008, o fundador do Summum, Corky Ra, disse que pelo menos 1.400 pessoas se inscreveram para mumificação. O preço de mumificação humana começaria em R$ 278.000.
Assim como os crentes na criogenia, Ra e aqueles que querem ser mumificados têm esperança de que seu DNA preservado permita aos futuros cientistas cloná-los e dar-lhes (ou pelo menos aos seus genes) uma segunda chance na vida.
Depois que morreu, Ra foi mumificado e agora está envolto em bronze na pirâmide Summum em Salt Lake City, Utah, EUA.
Muito parecido com a mumificação, a plastinação consiste em preservar o corpo em uma forma semireconhecível.
Inventada pelo anatomista Gunther von Hagens, a plastinação é usada em escolas de medicina e laboratórios de anatomia para preservar amostras dos órgãos para a educação.
Mas von Hagens tomou o processo um passo adiante, e criou exposições de corpos plastinados como se estivessem congelados no meio de suas atividades cotidianas. Segundo o Instituto de Plastinação, milhares de pessoas se inscreveram para doar seus corpos para a educação ou exposição.
A última novidade em eco enterro é um processo chamado liofilização. Inventado pela bióloga marinha sueca Susanne Wiigh-Masak, o processo envolve a imersão do cadáver em nitrogênio líquido, o que torna muito frágil.
Vibrações então agitam o corpo e a água é evaporada em uma câmara de vácuo especial. Em seguida, filtros separam qualquer enchimento de mercúrio ou implantes cirúrgicos e os tornam pó, e os restos são sepultados em uma cova rasa.
Com um enterro raso, o oxigênio e a água podem se misturar com os restos em pó, transformando-os em adubo.
Ninguém ainda foi enterrado dessa forma, mas Promessa, a empresa que desenvolve o serviço, agora tem uma filial licenciada no Reino Unido. Não há nenhuma previsão para o serviço pousar em território americano, mas o interesse em enterro verde só tende a crescer.[LiveScience]