Cientistas descobrem que as moscas veem o mundo em câmera lenta
De acordo com uma nova pesquisa, as moscas evitam ser golpeadas da mesma forma que o personagem de Keanu Reeves desviava de balas que voavam em sua direção, na antológica cena do filme Matrix: ao observar o tempo passar mais lentamente.
Os cientistas envolvidos na pesquisa constataram que quanto menor é um animal, mais rápida é a sua taxa metabólica e, consequentemente, mais devagar o tempo passa para ele. Isso significa dizer que, em uma ampla gama de espécies, a percepção do tempo está diretamente relacionada ao tamanho.
Ou seja, pequenos animais veem o mundo em um ritmo que nós classificaríamos de câmera lenta, ao utilizarmos o nosso passar do tempo como referência.
Já para animais maiores do que nós, o dia passa como se o botão “fast forward” dos antigos videocassetes estivesse acionado. Como consequência, para os olhos dos humanos, pequenas criaturas se movimentam muito rápido, e seres grandiosos são mais vagarosos do que nós.
Os resultados, publicados na revista “Animal Behaviour”, são provenientes de pesquisas sobre a capacidade dos animais de detectarem determinados flashes de ondas de luz. O ponto em que os flashes parecem se fundir, de modo que a fonte de luz pareça constante, fornece uma precisa indicação da percepção do tempo.
Os estudos que comparam o fenômeno em diferentes animais revelaram a ligação com o seu tamanho. Mais de 30 espécies foram estudadas para a pesquisa, incluindo roedores, enguias, lagartos, galinhas, pombos, cães, gatos e tartarugas.
O cientista Andrew Jackson, do Trinity College Dublin, na Irlanda, liderou o estudo e conta que diversos pesquisadores já observaram a diferente passagem do tempo em espécies distintas de animais ao medir a percepção da luz.
“Alguns podem detectar o flash de luz como um lampejo rápido enquanto outros o fazem de forma muito mais lenta, de modo que a luz parece um borrão. Curiosamente, há uma grande diferença entre as espécies grandes e pequenas: os animais menores veem o mundo em câmera lenta. Parece ser quase um fato da vida”, explica.
De acordo com Jackson, o foco da equipe de pesquisa eram os vertebrados, mas as atenções se voltaram às moscas, uma vez que os cientistas observaram que o inseto é capaz de perceber a luz até quatro vezes mais rápido do que os seres humanos. “O efeito também pode explicar a maneira como o tempo parece se acelerar à medida que envelhecemos”, complementa Jackson.
O pesquisador conta que decidiu realizar o estudo depois de perceber a forma como as crianças pequenas parecem estar sempre com pressa. “É tentador pensar que, para as crianças, o tempo passa mais lentamente do que para os adultos – e há algumas evidências de que isso realmente pode acontecer”.
Jackson relata que alguns estudos em humanos têm demonstrado a relação entre a frequência de luz detectada e a percepção subjetiva da passagem de tempo de uma pessoa. Os resultados apontam para a mesma situação: “A percepção do tempo de fato muda com a idade, e é percebido certamente mais rápido em crianças”, afirma Jackson.
Kevin Healy, estudante de doutorado na Faculdade de Ciências Naturais do Trinity College de Dublin, e coautor do estudo, acredita que os resultados corroboram a importância da percepção do tempo em animais. “A capacidade de perceber o tempo em escalas muito pequenas pode ser a diferença entre a vida e a morte para os organismos que se movem rapidamente”.
De acordo com Graeme Ruxton, professor da Universidade de St Andrews, na Escócia, que também participou da pesquisa, ter olhos que enviem atualizações para o cérebro em frequências muito mais elevadas do que os nossos olhos fazem não possui nenhum valor se o cérebro não consegue processar essas informações com a mesma rapidez.
“Dessa forma, o estudo destaca as capacidades impressionantes dos cérebros de até mesmo os menores dos animais. As moscas podem não ser especialistas em pensamentos profundos, mas conseguem tomar boas decisões muito rapidamente”. E é por isso que você não consegue matar uma mosca utilizando apenas a sua própria mão.
O estudo apoia a noção de que as diversas percepções de tempo em diferentes animais estão diretamente ligadas à expectativa de vida dos mesmos. Um dia, no nosso conceito de seres humanos, pode não ser muito, mas, sob a percepção de tempo de uma mosca, é quase uma vida inteira (seu ciclo de vida, na realidade, dura entre 25 e 30 dias). O mesmo acontece se pegarmos o referencial da outra ponta. Para um elefante, cuja expectativa de vida é de 80 anos, o mês passa muito mais rápido do que para seu sobrinho de 5 anos.
Finalmente uma base científica para a observação empírica de que “este ano passou voando”, “antes não era assim” e outras expressões que ouviremos cada vez mais à medida que o final do ano se aproxima. [The Telegraph e Gizmodo]
3 comentários
Gente podem falar que sou louco mas essa é uma das minhas observações de quando eu era criança ainda, inclusive minha observação era um pouco mais avançada, pois além dos animais eu fazia o mesmo com o universo, tipo, o tempo universal, duração dos planetas e sol tão longos para nós podem ocorrer em milésimos de segundos para um ser lá fora, 1 bilhão de anos aqui talvez seja um milésimo de segundo se esse universo for apenas um átomo de uma célula la fora, sendo assim já aconteceu.
Essa é velha, que as moscas veem em câmera lenta. Justamente por saber disso que eu as capturava com as próprias mãos! É simples: se ela enxerga em câmera lenta, basta aproximar sua mão lentamente dela. A tonta não percebe a aproximação, e quando sua mão estiver a curta distância… fuuuu! Sem chances para ela.
Esses cientistas… sempre atrasados! E gastando tempo e dinheiro à toa.
Não sei se com todo mundo é assim, mas tenho lembranças bem vívidas da minha infância e sempre, sempre que me lembro daquele tempo (2, 3, 4, 5 anos), tenho a sensação de que cada dia era uma vida inteira, que uma ano era um aaaaannnnnnooooooo, a vida parecia passar muito mais lentamente. Comento isso a muito tempo com conhecidos e associava esse fato ao fator de tempo relativo vivido: para uma criança que tem apenas 2 anos, o passar de 1 anos é metade da vida inteira que ela viveu! Com o passar dos anos, um determinado período de tempo vai se tornando pequeno se comparado a todo o período que já vivemos. Logo, 1 ano para uma criança de tês anos tem uma duração relativa muito maior (33,3% da vida inteira) do que 1 anos para uma pessoa de 30 (3,3% da vida inteira). Ligando isso a associação a mudança na taxa do metabolismo, tenho agora uma confirmação daquilo que antes era apenas uma forte impressão: a plástica dimensão do tempo realmente mudou pra mim…