Porque a masturbação não consegue substituir relações sexuais reais
A sexualidade humana é um campo vasto e complexo, influenciado por fatores biológicos, psicológicos e sociais. Um dos temas frequentemente discutidos é se a masturbação pode substituir a relação sexual como forma de satisfazer os desejos sexuais. Embora ambas as práticas possam aliviar a tensão sexual, a ciência nos revela que elas são experiências fundamentalmente diferentes. Este artigo explora as explicações científicas que elucidam por que a masturbação, por si só, pode não ser suficiente para substituir o desejo por uma experiência sexual compartilhada.
A Conexão Emocional e Social
Um dos fatores que distingue a relação sexual da masturbação é o componente emocional e social envolvido no ato. Durante o sexo, a interação entre dois indivíduos frequentemente resulta na liberação de oxitocina, conhecida como o “hormônio do amor”. A oxitocina é um neuropeptídeo que está diretamente ligado à criação de laços emocionais e ao fortalecimento da intimidade entre os parceiros. Este processo é crucial para a sensação de conexão e satisfação emocional que muitas vezes acompanha o sexo.
Por outro lado, a masturbação, por ser uma atividade individual, geralmente não envolve o mesmo nível de interação emocional ou social. A ausência dessa troca interpessoal pode fazer com que, para alguns indivíduos, a masturbação não atenda plenamente à necessidade de conexão emocional que o sexo em um relacionamento íntimo pode oferecer. Esse fator pode explicar por que algumas pessoas não se sentem tão satisfeitas após a masturbação, especialmente se estiverem em busca de afeto ou de intimidade emocional.
Diferenças Neuroquímicas
Do ponto de vista neuroquímico, tanto a masturbação quanto a relação sexual desencadeiam a liberação de dopamina, o neurotransmissor responsável pela sensação de prazer. No entanto, durante o sexo, a amplitude de neuroquímicos liberados pode ser muito maior. Além da dopamina e da oxitocina, hormônios como a vasopressina e endorfinas também são liberados em níveis mais elevados durante a relação sexual. Esses compostos estão associados ao prazer, à sensação de recompensa e ao alívio da dor, contribuindo para uma experiência mais intensa e satisfatória.
De forma contrastante, a masturbação tende a provocar a liberação desses mesmos neuroquímicos, mas em níveis mais baixos. Portanto, embora a masturbação possa aliviar a tensão sexual e proporcionar prazer, ela pode não proporcionar a mesma intensidade de prazer e satisfação que o sexo com um parceiro.
Estímulo Físico Diferenciado
Outro aspecto importante a ser considerado é a diferença na estimulação física. O ato sexual normalmente envolve múltiplas áreas do corpo e uma diversidade de estímulos sensoriais que podem gerar respostas fisiológicas mais complexas. A estimulação de diversas zonas erógenas, o contato com outra pessoa, o toque, os sons e até o cheiro do parceiro podem intensificar a experiência sexual de maneira que a masturbação dificilmente alcançaria.
A masturbação, por sua vez, tende a ser mais focada e limitada em termos de estimulação física, o que, em certos casos, pode gerar uma experiência menos envolvente. Isso não significa que a masturbação seja inferior, mas sim que a complexidade sensorial e a variedade de estímulos presentes na relação sexual podem proporcionar uma resposta fisiológica mais completa.
Aspectos Psicológicos
Além das diferenças biológicas e físicas, os aspectos psicológicos desempenham um papel crucial na experiência sexual. A validação emocional que pode vir do sexo com outra pessoa, a sensação de ser desejado e a intimidade emocional que envolve a experiência sexual são fatores que podem contribuir significativamente para o nível de satisfação experimentado.
Algumas pessoas, ao buscarem na masturbação uma forma de suprir essas necessidades emocionais, podem encontrar uma lacuna, pois essa prática, por ser solitária, não pode oferecer a mesma validação psicológica e social que o sexo com um parceiro.
Considerações Finais
Embora a masturbação seja uma prática saudável e natural, reconhecida por muitos como uma forma de aliviar a tensão sexual e explorar a própria sexualidade, ela não é idêntica à experiência de uma relação sexual em termos neurobiológicos, psicológicos e físicos. A relação sexual envolve uma complexa combinação de estímulos emocionais, sociais e fisiológicos que, para muitas pessoas, tornam a experiência mais completa e satisfatória.
Portanto, para aqueles que sentem que a masturbação não substitui plenamente seus desejos sexuais, há uma explicação embasada na ciência. A necessidade humana de conexão, tanto emocional quanto física, juntamente com os mecanismos neuroquímicos e fisiológicos que são ativados durante o sexo, faz com que a relação sexual seja, para muitos, uma experiência insubstituível.
Este entendimento ajuda a promover uma visão mais abrangente da sexualidade humana, reconhecendo as diferenças entre masturbação e relação sexual, sem desvalorizar nenhuma das práticas, mas ressaltando as especificidades de cada uma.
Referências
- McCabe, M. P. (2008). The Role of Neurochemicals in Sexual Behavior. Journal of Sex Research.
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