A extinção dos dinossauros, ocorrida há cerca de 66 milhões de anos com o impacto de um asteroide, marcando o fim da era Cretácea que se iniciou aproximadamente 145 milhões de anos atrás, tem sido um tema de grande debate entre paleontólogos, como nós, por mais de quatro décadas. A grande questão é: estavam os dinossauros já em declínio antes desse evento catastrófico?
Nos idos de 1970, iniciou-se uma discussão acerca do estado em que se encontravam os dinossauros antes de sua extinção em massa. Observações da época apontavam para um aumento na diversidade de dinossauros durante um estágio geológico que ocorreu entre 83,6 a 71,2 milhões de anos atrás, mas uma aparente redução na variedade de espécies nos últimos milhões de anos do período Cretáceo.
Alguns cientistas interpretaram esses dados sugerindo que o impacto do asteroide no Golfo do México teria sido apenas a última adversidade enfrentada por um grupo de animais já fragilizado.
Por outro lado, existe a hipótese de que o que parece ser uma diminuição na diversidade dos dinossauros pode ser resultado da dificuldade em catalogá-los corretamente. A preservação de diferentes dinossauros em formações fósseis varia com base em fatores como seus habitats naturais e as condições que favorecem a sua fossilização.
Além disso, a descoberta e acessibilidade dos sítios fossilíferos influenciam os tipos de restos de dinossauros encontrados. Essas limitações são críticas, pois os fósseis são fundamentais para os paleontólogos determinarem o verdadeiro estado das populações de dinossauros no momento do impacto do asteroide.
Mas qual era a real situação da diversidade dos dinossauros naquele momento crucial?
Nosso trabalho de pesquisa, envolvendo a descoberta e análise de novas espécies de dinossauros, fornece insights valiosos. Inicialmente pensávamos que um espécime que estávamos estudando, acreditado ser um jovem indivíduo de uma espécie conhecida daquela época, era na verdade um adulto de uma nova espécie.
Nosso foco no estágio de desenvolvimento do espécime sugere que a diversidade dos dinossauros pode não ter estado em declínio antes do impacto do asteroide. Isso indica que podem existir mais espécies daquele período a serem descobertas, possivelmente através da reclassificação de fósseis já existentes em coleções de museus.
Nosso estudo mais recente se concentrou em quatro ossos dos membros inferiores de um dinossauro semelhante a uma ave – um fêmur, uma tíbia e dois metatarsos. Esses foram encontrados na Formação Hell Creek, em Dakota do Sul, e datam dos últimos 2 milhões de anos do Cretáceo.
Inicialmente, identificamos esses ossos como pertencentes aos caenagnathídeos – dinossauros semelhantes a aves, com bicos sem dentes, pernas longas e caudas curtas, e cobertos por penas complexas, similares às das aves modernas.
A única espécie conhecida de caenagnathídeo desse período e região era o Anzu, apelidado de “galinha do Inferno”. Coberto de penas, com asas e um bico sem dentes, o Anzu pesava entre aproximadamente 200 a 340 quilogramas. Sua dieta, possivelmente onívora, ainda é motivo de debate.
Supondo que nosso espécime fosse um Anzu juvenil, atribuímos suas diferenças anatômicas à sua juventude e tamanho menor, acreditando que mudaria à medida que crescesse. No entanto, não havia espécimes juvenis definitivos de Anzu documentados, então estávamos ansiosos para aprender sobre seu crescimento examinando seus ossos.
O crescimento ósseo, assim como os anéis de uma árvore, pode ser observado através de linhas de crescimento interrompido nos ossos. Essas linhas indicam períodos de crescimento mais lento, revelando a idade e a taxa de crescimento do animal.
Ao cortar e examinar microscopicamente os ossos, descobrimos que o espaçamento das linhas de crescimento mais recentes estava mais próximo, indicando que o animal estava próximo do tamanho adulto. Isso nos levou a concluir que não se tratava de um juvenil, mas de um adulto de uma nova espécie, que nomeamos Eoneophron infernalis, que significa “galinha do Faraó do Inferno”, uma referência ao seu parente maior, o Anzu. Características únicas desta espécie incluíam ossos do tornozelo fundidos à tíbia e uma crista bem desenvolvida em um dos ossos do pé, distintas de um jovem Anzu.
Esse achado nos levou a reavaliar outros espécimes antes considerados Anzu, e nos levou ao reconhecimento de espécies adicionais de caenagnathídeos na América do Norte Ocidental durante aquele período.
Identificamos três tamanhos distintos entre esses dinossauros: o Anzu, comparável a um urso grizzly; o Eoneophron, semelhante em peso a um humano; e uma espécie menor ainda sem nome, aproximadamente do tamanho de um pastor alemão.
Comparando com formações fósseis mais antigas, como a famosa Formação Dinosaur Park, em Alberta, que preserva dinossauros que viveram entre 76,5 e 74,4 milhões de anos atrás, encontramos não apenas o mesmo número de espécies de caenagnathídeos, mas também as mesmas classes de tamanho.
Lá, temos o Caenagnathus, comparável ao Anzu, o Chirostenotes, comparável ao Eoneophron, e o Citipes, comparável à terceira espécie que encontramos evidências. Esses paralelos, tanto na contagem de espécies quanto nos tamanhos relativos, oferecem evidências convincentes de que os caenagnathídeos permaneceram estáveis durante a última parte do Cretáceo.
Nossa nova descoberta sugere que este grupo de dinossauros não estava em declínio de diversidade no final do Cretáceo. Esses fósseis mostram que ainda existem novas espécies a serem descobertas e apoiam a ideia de que pelo menos parte do padrão de diminuição da diversidade é resultado de vieses de amostragem e preservação.
A questão permanece: a extinção dos grandes dinossauros aconteceu “gradualmente, depois de repente”, como um personagem de Hemingway descreveu sua falência? Embora muitas questões persistam nesse debate sobre extinção, as evidências do Eoneophron sugerem que os caenagnathídeos estavam se saindo muito bem antes que o impacto do asteroide arruinasse tudo. [Science Alert]