Em aproximadamente um bilhão de anos, espera-se que o Sol aumente consideravelmente seu tamanho, luminosidade e calor, tornando a Terra potencialmente inóspita para a vida. Contudo, um estudo teórico recente propõe que um encontro acidental com uma estrela errante poderia alterar a órbita da Terra para uma região mais fria ou mesmo lançá-la para fora do sistema solar, oferecendo uma pequena chance de sobrevivência.
Atualmente, nosso planeta está localizado confortavelmente na zona habitável do Sol, uma área onde é possível a existência de água líquida. Com a expansão do Sol nos próximos bilhões de anos, essa zona se deslocará para mais longe, ameaçando a vida na Terra muito antes de o Sol se transformar em um gigante vermelho e engolir o planeta em cerca de 5 bilhões de anos.
Um grupo de astrônomos conduziu um estudo para explorar o que aconteceria se a Terra fosse deslocada de sua órbita atual, passando a vagar livremente como um planeta “errante”. Eles realizaram simulações para verificar os efeitos de uma estrela passando pelo nosso sistema solar no próximo bilhão de anos. Este estudo, que será publicado nos Avisos Mensais da Sociedade Astronômica Real e já está disponível no arquivo pré-publicação arXiv, considerou diferentes cenários.
Historicamente, estrelas já passaram perto do nosso sistema solar.
Sean Raymond, pesquisador líder do estudo, da Universidade de Bordeaux na França, informou à Live Science que a aproximação mais próxima de uma estrela ocorreu a uma distância de 10.000 unidades astronômicas (au) há alguns milhões de anos. Para entender os possíveis desfechos, a equipe simulou comportamentos planetários sob vários cenários, incluindo estrelas de diferentes tamanhos se aproximando a distâncias tão próximas quanto 1 au.
A equipe realizou 12.000 simulações. Em algumas delas, a Terra foi empurrada para uma órbita mais distante e fria. Em outras, a Terra e outros planetas acabaram no cinturão de Oort, na periferia do sistema solar. De maneira intrigante, algumas simulações mostraram a Terra sendo puxada gravitacionalmente para uma nova órbita ao redor da estrela que passava, mantendo potencialmente condições para a existência de água líquida.
Apesar desses cenários, depender de uma estrela passante para a salvação da Terra é altamente improvável. A probabilidade de a vida na Terra persistir após tal evento é de apenas 1 em 35.000, comparável a tirar o ás de espadas de dois baralhos de cartas enquanto se lança um total de 10 com dois dados, como ilustrado por Raymond em seu blog, PlanetPlanet. Em vez de depender de eventos celestiais, Raymond recomenda que desenvolvamos nossas próprias soluções, como alterar a órbita da Terra ou reduzir o impacto da energia solar.
Algumas simulações previram consequências ainda mais graves, como colisões entre planetas ou com o Sol, sendo o Mercúrio frequentemente o mais afetado. No entanto, esses desfechos também são improváveis. Mais de 90% das simulações resultaram em nenhuma mudança significativa nas órbitas dos planetas do nosso sistema solar, indicando que a passagem de uma estrela provavelmente teria um efeito mínimo.
Dessa forma, o estudo levanta questões fascinantes sobre o destino a longo prazo da Terra e dos outros corpos celestes do nosso sistema solar. As simulações abrem possibilidades para diversos desfechos, desde mudanças sutis nas trajetórias orbitais até eventos mais dramáticos, como a ejeção de planetas do sistema ou colisões catastróficas. A ciência, neste caso, atua não apenas como um meio de compreender os processos cósmicos, mas também como uma ferramenta para imaginar cenários futuros e suas implicações para a Terra e a humanidade.
Essas considerações ressaltam a importância de estudos astronômicos e modelagens computacionais na compreensão do nosso universo. Ao explorar a dinâmica dos corpos celestes e suas interações mutáveis, os cientistas conseguem oferecer insights valiosos sobre o passado, presente e futuro do nosso sistema solar.
Enquanto a probabilidade de uma estrela errante alterar significativamente o destino da Terra é baixa, o exercício de considerar tal possibilidade destaca a natureza imprevisível do universo e a necessidade contínua de pesquisa e inovação na ciência astronômica. [Space]