A equilibrista Faith Dickey, recordista feminina mundial de slacksline (esporte de equilíbrio sobre uma fita de nylon, estreita e flexível, praticado geralmente a uma altura de 30 cm do chão), realizou sua mais incrível façanha recentemente, em uma estrada da Croácia.
A ação foi patrocinada pela Volvo, que queria demonstrar a movimentação suave do seu novo modelo de semicaminhão, Volvo FH.
Dickey, 23 anos, detém recordes mundiais de caminhada mais longa e mais alta em slacklines do sexo feminino, mas afirmou que o que fez com os caminhões foi, de longe, sua atuação mais difícil.
Ao invés de uma corda de nylon, Dickey teve de andar em uma corda mais dura colocada entre dois caminhões Volvo, andando lado a lado a uma velocidade de 129 quilômetros por hora, em duas pistas que levavam a dois túneis separados.
Lutando contra o vento, a equilibrista faz um enorme esforço para manter-se em pé e caminhar o mais rápido possível de um caminhão a outro, conseguindo alcançar seu destino uma fração de segundo antes de ser possivelmente esmagada pela parede entre os dois túneis. Confira o vídeo (e prepare-se para uma enxurrada de adrenalina):
Você deve estar pensando: “essa garota é louca”. Como foi possível realizar tal façanha? Quão perigoso foi o que Dickey fez?
Muito, segundo o físico Louis Bloomfield, da Universidade de Virgínia (EUA). A dublê precisou de muita habilidade e ousadia, assim como os anônimos, mas vitais motoristas de caminhão.
O grande desafio para Dickey foi enfrentar a enorme quantidade de resistência do ar. Se você está em cima de um caminhão
em uma rodovia aberta a 129 km/h, deve imaginar quanto vento está recebendo no corpo todo.
“O principal tipo de resistência do ar que ela está enfrentando é o arrasto de pressão: a pressão do ar vem de cima, conforme o ar a atinge de frente lateralmente, e produz uma força global a favor do vento nela”, explica Bloomfield.
O ar resiste ao movimento da equilibrista, e esta força de resistência é denominada arrasto (ou atrito). Essa força de arrasto de pressão é aproximadamente proporcional ao quadrado de sua velocidade através do ar.
Supondo que Dickey pesa cerca de 54 kg, Bloomfield diz que a resistência do ar seria como 11 a 14 kg de força tentando empurrá-la para fora da corda.
Essa força gera outra chamada torque, ou força de torção, em Dickey: o ar tenta girá-la em torno do ponto de pivô (o ponto onde seus pés tocam a corda). Para compensar o torque, ela precisa criar uma força no sentido contrário. Ela faz isso deslocando seu peso. “Para fazer com que as duas forças de torção se cancelem [deixando-a manter-se em pé e reta], ela se inclina em direção ao túnel em cerca de 10 graus”, disse Bloomfield.
Por mais perfeita que tenha sido a inclinação de Dickey, o que com certeza exigiu muita habilidade, nada disso teria adiantando se os motoristas dos caminhões fossem ruins de direção.
Qualquer desvio dos caminhões poderia tê-la feito perder o equilíbrio. “Estou espantado com a habilidade dos caminhoneiros”, comentou Bloomfield.
Os caminhões tinham que viajar a uma velocidade igual, exata e constante, e permanecer à mesma distância, a fim de manter a tensão no slackline também exata e constante. Se eles se afastassem um do outro, ou andassem mais rápido que o outro, ou qualquer coisa do tipo, a linha poderia se romper, ou mudar de tensão e enviar Dickey para longe.
Bloomfield sugere que mecanismos de feedback (informando os caminhões para manter suas velocidades relativas e distâncias constantes) podem ter sido instalados nos veículos, mas, “se os motoristas conseguiram fazer isso sozinhos, eles são incríveis”.[LiveScience, Gibbon, iol, slackrio, brainstorm9, Wikipedia]