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A “linda confusão” do primeiro bilhão de anos pelo telescópio Webb

À direita, o borrão amarelado representa JADES-GS-Z14-0, uma galáxia detectada nos dados do JWST neste ano. Reconhecida como a galáxia mais antiga já descoberta no universo, ela é vista como se apresentou 300 milhões de anos depois do Big Bang. Imagem de Jakob Helton/Universidade do Arizona; Processamento de imagem por: Ben Johnson/CfA, Sandro Tacchella/Cambridge e Phill Cargile/CfA.

Nos primórdios do universo, há apenas 470 milhões de anos após o Big Bang, surgiu um buraco negro supermassivo em uma galáxia conhecida como UHZ1. Este fenômeno intrigante foi detectado pelas observações combinadas do Telescópio Espacial James Webb (JWST) e do Chandra X-ray Observatory. Surpreendentemente, o buraco negro, com uma massa estimada em dezenas ou até centenas de milhões de vezes a do Sol, parece ter se formado a partir do colapso direto de uma gigantesca nuvem de gás, em vez de resultar da morte de uma estrela individual. A Quanta Magazine mostrou o grande impacto em nosso conhecimento do início do universo com a ajuda do Telescópio Espacial James Webb (JWST).

O Enigma dos Buracos Negros

A formação de buracos negros supermassivos, especialmente os que apareceram tão cedo na história do cosmos, levanta questões fascinantes entre os astrofísicos. Algumas teorias sugerem que esses buracos negros se originaram de um colapso direto de nuvens de gás colossal, enquanto outras defendem que poderiam ter surgido da implosão de estrelas de primeira geração, também conhecidas como “estrelas gordinhas”. Essa luta entre ideias tem sido o pão nosso de cada dia nas discussões astrofísicas.

As análises realizadas pelo JWST e pelo Observatório de Raios-X Chandra descobriram um buraco negro supermassivo presente em uma galáxia denominada UHZ1, surgindo apenas 470 milhões de anos após o Big Bang. Alguns especialistas em astrofísica afirmam que o buraco negro, que já tinha uma massa estimada em dezenas ou centenas de milhões de sóis, provavelmente se formou devido ao colapso direto de uma colossal nuvem de gás, em vez de ser resultado da morte de uma estrela única. Raios-X: NASA/CXC/SAO/Ákos Bogdán; Infravermelho: NASA/ESA/CSA/STScI; Processamento de imagem: NASA/CXC/SAO/L. Frattare & K. Arcand.

No entanto, o debate não se limita a como esses buracos negros foram formados. Há também a questão da detecção. Nem todos os buracos negros supermassivos demonstram a produção de raios-X, que costumam ser uma assinatura típica desses objetos. Isso leva a especulações sobre se algumas dessas entidades produzem raios-X tão tênues que não conseguimos observá-los ou se estão envoltos em uma névoa densa de gás e poeira.

A Classe dos Pontinhos Vermelhos

Entre as descobertas intrigantes feitas pelo JWST estão os chamados “pontinhos vermelhos”. Esses pequenos objetos cósmicos emergiram aproximadamente 600 milhões de anos após o Big Bang, mas, curiosamente, não deixaram rastros no universo atual. Os pontinhos vermelhos são galáxias pequenas e avermelhadas que, aparentemente, brilharam intensamente por cerca de um bilhão de anos antes de desaparecerem misteriosamente.

Uma seleção dos enigmáticos pequenos pontos vermelhos que foram detectados pelo JWST no início do universo. Informações provenientes das pesquisas EIGER / FRESCO.

Estes galáxias, que têm aproximadamente 100 vezes o tamanho da nossa Via Láctea, parecem emitir uma luz vermelha intensa, possivelmente devido à presença de poeira que bloqueia a luz azul. As características estranhas dessas galáxias foram comparadas às descobertas de quasares na década de 1950, que inicialmente deixaram os cientistas perplexos, mas que mais tarde foram compreendidos como buracos negros supermassivos ativos. Com os pontinhos vermelhos, a história pode se repetir; estamos apenas no começo de um novo capítulo.

Estruturas Cósmicas Estranhas

Outra revelação fascinante das observações do JWST envolve a descoberta de galáxias em formação que se assemelham a um cacho de uvas. Uma dessas galáxias, chamada “Cosmic Grapes”, foi observada como existindo 930 milhões de anos após o Big Bang e se revelou ser uma aglomeração de pelo menos 15 pequenos clumps de estrelas. Isso leva à pergunta: será que todas as galáxias do início do universo eram, na verdade, conglomerados de pequenos grupos de estrelas?

Uma galáxia jovem e difusa, conhecida como Cosmic Grapes (Uvas Cósmicas), observada em sua aparência 930 milhões de anos após o Big Bang. Fonte: Seiji Fujimoto.

Essas galáxias são compostas de densas concentrações de gás que parecem formar estrelas de forma muito eficiente e rápida, sugerindo que a formação de galáxias pode ter ocorrido de maneira diferente do que se pensava anteriormente. Na verdade, as galáxias no universo primordial apresentavam características estranhas e inusitadas, com tamanhos e formatos que desafiam o que observamos hoje. Os cientistas se deparam com galáxias que parecem se comportar de maneira inesperada, como se estivessem em uma festa cósmica, dançando em direções aleatórias.

O Futuro da Observação Cósmica

Com o JWST enviando novos dados todos os dias, a excitação nas comunidades de astronomia é palpável. Telescópios futuros, como o Nancy Grace Roman Space Telescope e o Euclid, prometem complementar as descobertas do JWST com observações que serão cruciais para entender melhor a formação e a evolução das galáxias. O Roman, por exemplo, deve gerar um terabyte de dados por dia, enquanto o Euclid se concentrará na determinação dos redshifts galácticos.

O JWST registrou uma variedade de galáxias que apresentam formatos incomuns e alongados no universo inicial. Fonte: Viraj Pandya.

A integração dos dados do JWST com observações de novos telescópios irá acelerar a nossa compreensão do cosmos e abrirá novas possibilidades de pesquisa. Enquanto isso, as descobertas continuam a desafiar as teorias existentes, alimentando debates e gerando novas perguntas que prometem levar a ciência em direções inesperadas.

Como observadores do universo, temos a sorte de viver em um momento em que as tecnologias de observação estão se aprimorando rapidamente, revelando os segredos do cosmos que foram escondidos por bilhões de anos. O que nos aguarda no futuro é um mistério delicioso, uma verdadeira caixa de surpresas cósmicas, onde cada nova descoberta parece nos levar a mais perguntas do que respostas. Afinal, no vasto e maravilhoso universo, a única certeza é que o mistério nunca acaba.

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