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A maior parte de suas mutações é culpa do seu pai

Hoje vamos falar da Islândia. Uma gelada ilha situada no Atlântico Norte, com área de 103 mil km² (pouco superior à do estado de Pernambuco), que oferece um dos melhores padrões de vida do planeta para as 403 mil almas que habitam o país. Destes mais de 400 mil, 93% são loiríssimos, e geralmente casam entre si, dando origem a filhos com o mesmo fenótipo.

Esta nação foi escolhida pela aclamada Universidade Harvard, em Cambridge (Massachussets, EUA), para um estudo a respeito de mutações genéticas. A partir da análise cromossômica de mais de 85 mil islandeses (o que deve ter mobilizado boa parte do país, considerando que isso equivale a mais de 20% da população total), descobriu-se que o pai é três vezes mais responsável por mutações genéticas em uma criança do que a mãe.

O que são mutações genéticas, afinal?

“Mutação genética” nem sempre equivale a uma pessoa com três braços, apenas um olho ou outra anomalia desta natureza. O termo “mutação genética” abrange um leque muito mais amplo de situações, sendo algumas até benéficas. É graças a uma delas, por exemplo, que algumas pessoas têm uma inexplicável imunidade à AIDS, mesmo quando fortemente expostas ao vírus HIV.

Boa parte dos casos, no entanto, implica mesmo em consequências negativas: as chamadas doenças genéticas. O famoso teste do pezinho, figurinha carimbada em campanhas anuais do SUS (sistema publico único de saúde brasileiro) e outras instituições de saúde, serve para detectar uma delas.

De mais a mais, são mutações genéticas ao longo do tempo que conduzem a evolução das espécies. Embora quase imperceptíveis de uma geração de seres humanos para a seguinte, elas sempre estão presentes. Por exemplo, são através delas que as populações, ao longo dos anos, vão ficando com a cor de pele mais escura ou mais clara, com ombros mais largos ou narizes maiores, etc.

Uma ideia recorrente na ciência é que mutações genéticas evolutivas levam milhares de anos para serem notadas em uma população. Nem sempre é o caso. Um estudo do Hospital Infantil de Boston (em Massachussets, EUA) comparou a altura média dos homens nos países europeus e descobriu uma grande diferença entre um grupo étnico e outro.

Aparentemente, homens do norte europeu (Escandinávia e países bálticos) tendem a ser mais altos que os europeus do sul, por uma razão meramente genética. As correntes migratórias das últimas gerações foram deixando suas marcas rapidamente, e o resultado ficou logo visível.

O risco da paternidade “idosa”

A experiência com os islandeses foi uma tarefa ampla. Participaram da pesquisa 24.832 trios de pai, mãe e filho (ou filha). Ao todo, os cientistas detectaram 2.058 mutações nas sequências de DNA que foram coletadas.

Do total verificado, a proporção entre homens e mulheres impressionou os cientistas: para cada mutação no DNA de uma representante feminina, havia 3,3 mutações entre os homens.

Além do número, a “vulnerabilidade” masculina também foi notável: as mutações genéticas entre os homens crescem com a idade (mais precisamente, a taxa dobra dos 20 para os 58 anos), enquanto as das mulheres permanecem inalteradas.

À primeira vista, esse número revela uma tendência hereditária: na teoria, quanto mais velho o pai, maior a chance de uma criança apresentar uma mutação genética.

Porque os pais tendem a ter mais mutações e passá-las adiante ainda é um tópico que precisa ser melhor estudado, mas algumas teorias que podem levar a explicações já estão aparecendo, como a do DNA mitocondrial, formado por DNA apenas materno e que só exclui mutações que podem prejudicar mulheres. [Medical Xpress/Science Daily/EurekAlert]

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