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NASA encontra material orgânico e metano em Marte. O que isso significa?

Cientistas da NASA anunciaram que o rover Curiosity descobriu evidências conclusivas de vários compostos orgânicos em Marte.

As moléculas encontradas em rochas sedimentares de três bilhões de anos próximas à superfície contêm carbono e hidrogênio, e também podem incluir oxigênio, nitrogênio e outros elementos. Embora comumente associadas à vida, moléculas orgânicas também podem ser criadas por processos não biológicos e não são necessariamente indicadores de vida.

Além disso, depois de acompanhar atentamente os níveis de metano na atmosfera do planeta, os pesquisadores confirmaram que há algo misterioso fazendo esses níveis flutuarem, mas igualmente ainda não podem descartar fontes não biológicas por trás desse processo.

Compostos orgânicos

Um conjunto de resultados geológicos analisados por Curiosity fornece uma compreensão mais profunda da química orgânica nos sedimentos de três bilhões de anos coletados em locais da Cratera Gale, em Marte.

Verificou-se que as amostras continham tiofeno, 2- e 3-metiltiofenos, metanotiol e dimetilsulfureto.

Esses produtos químicos não significam nada para a maioria de nós, mas para os cientistas que estudam a geologia marciana é uma indicação de que a química orgânica no lamito do planeta (um tipo de rocha sedimentar) é extremamente semelhante à nossa.

A melhor parte é que o método usado para detectar essas substâncias químicas indica que elas não estão flutuando sozinhas na rocha, mas são peças menores de química orgânica pertencentes a materiais ainda maiores e mais complicados.

“Com essas novas descobertas, Marte está nos dizendo para manter o curso e continuar procurando por evidências de vida”, disse Thomas Zurbuchen, da Diretoria de Missões Científicas da NASA na sede da agência em Washington, nos EUA.

Metano

O outro conjunto de resultados anunciados se trata do misterioso caso do metano em Marte. Picos de metano (CH4) foram notados pela primeira vez na atmosfera do planeta há vários anos, atraindo um intenso debate sobre sua possível fonte.

Dados do Curiosity e do Trace Gas Orbiter, instrumento no alto do planeta, localizaram o gás em rajadas que surgiam e desapareciam, o que sugeria que um processo dinâmico o estava produzindo.

Uma nova análise de amostras coletadas pela Curiosity confirmou um padrão de longo prazo de altos e baixos de metano, variando entre 0,24 e 0,65 partes por bilhão. Os cientistas creem que as mudanças definitivamente coincidem com as estações de Marte, atingindo um pico no final do verão no hemisfério norte do planeta.

“Esta é a primeira vez que vimos algo repetível na história do metano, então nos oferece um entendimento sobre [o processo]”, disse Chris Webster, do Laboratório de Propulsão à Jato da NASA na Califórnia, nos EUA.

Possíveis explicações

Aqui na Terra, 95% de todas as moléculas de metano são produzidas por seres vivos. Isso não quer dizer que não existam fontes não biológicas. Por mais tentador que seja pensarmos que micróbios marcianos são a fonte desse metano, por enquanto, há muitos outros candidatos que temos que excluir primeiro.

Por exemplo, a responsável pode ser um tipo de reação química baseada em uma rocha chamada olivina. Ou então meteoritos lançando materiais orgânicos na atmosfera.

O problema maior é explicar o rápido desaparecimento desse metano. Um estrato de olivina pode ser um contribuinte potencial, vazando um fluxo constante do gás ao reagir com a água e o dióxido de carbono em um processo chamado serpentinização.

Por conta dos picos sazonais de metano no verão, a fonte deve ser afetada pelo aumento da temperatura e maior luz solar. Uma estrutura de água cristalina chamada clatrato fornece uma explicação perfeita.

Vida?

Algum tipo de biologia não pode ser descartada, é claro, mas, neste momento, simplesmente não há como saber se as moléculas orgânicas e as descobertas de metano apontam para uma vida potencial em Marte.

Testes futuros dos isótopos de carbono no metano poderiam tornar a imagem mais clara.

“Há sinais de vida em Marte? Não sabemos, mas estes resultados nos dizem que estamos no caminho certo. (…) [O] que pudermos descobrir sobre a química de Marte, é quase certo que irá adicionar detalhes preciosos à nossa compreensão da vida no cosmos”, disse Michael Meyer, cientista do Programa de Exploração de Marte da NASA.

As descobertas foram publicadas em dois artigos na revista científica Science. [ScienceAlert, Phys]

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