A Via Láctea só estabilizou na época que o sol e a Terra estavam em formação

Por , em 8.11.2012

A formação das estruturas das galáxias sempre foi um dos problemas da astrofísica moderna, e os modelos atuais partiam da suposição que as galáxias, como a nossa Via Láctea, tivessem estabilizado sua forma a cerca de 8 bilhões de anos atrás.

Para confirmar esta hipótese, a astrônoma Susan Kassin, do Centro de Voo Espacial Goddard, da Nasa, fez um censo de centenas de galáxias usando os telescópios Keck, no Havaí (EUA), e Hubble (HST).

Ela contou as galáxias que estavam estabilizadas, e as separou por idade e por massa, chegando a uma conclusão interessante: as galáxias não se estabilizaram 8 bilhões de anos atrás, mas continuaram em processo de estabilização até bem pouco tempo atrás.

Atualmente, as galáxias que ainda têm processos de formação de estrelas têm formas estáveis de disco, como a galáxia de Andrômeda, ou a Via Láctea, onde a rotação em torno do centro domina os outros movimentos.

Mas com as galáxias azuis mais distantes, a situação é outra: suas partes apresentam movimentos desordenados em múltiplas direções. Lentamente, elas vão se organizando, à medida que o movimento desorganizado dá lugar a uma rotação cada vez mais rápida.

Dentre as galáxias azuis, as galáxias maiores apresentam um nível maior de organização, e estão gradualmente se transformando em discos girantes galácticos como a nossa galáxia.

E por que a hipótese anterior estava errada? Benjamin Weiner, astrônomo da Universidade do Arizona em Tucson (EUA) e coautor do trabalho, aponta que os estudos anteriores excluíam as galáxias mais irregulares, e por isto a impressão que havia era que as galáxias em disco se estabilizavam rapidamente e permaneciam inalteradas durante muito tempo.

Veja abaixo a simulação da evolução das galáxias mostrando como acontece a estabilização dos movimentos internos. A cor vermelha representa estrelas antigas, a branca e azul estrelas jovens, o azul claro a distribuição de gases. A largura da visualização é de 300.000 anos-luz.

O estudo usou uma amostra de 544 galáxias azuis do Deep Extragalactic Evolutionary Probe 2 (DEEP2 – Sonda de Evolução Extragaláctica Profunda) Redshift Survey (amostragem de redshift), um projeto que envolve o Hubble e os telescópios gêmeos de 10 metros do Observatório W. M. Keck, no Havaí.

As galáxias selecionadas encontram-se entre 2 e 8 bilhões de anos-luz de distância, com massas variando entre 0,3% a 100% da massa da Via Láctea.

Evolução da Via Láctea

Os astrônomos acreditam que a Via Láctea também sofreu o mesmo tipo de processo evolutivo, e estabilizou-se gradualmente no seu estado atual, na mesma época que o sol e o sistema solar foram formados.

Durante os últimos 8 bilhões de anos, o número de fusões de galáxias diminuiu bastante, bem como a taxa de formação de estrelas e explosões de supernovas.

A partir dos dados observados, as simulações de computador da evolução das galáxias pode ser ajustada até que os modelos repliquem os dados observados. Com os modelos afinados, os cientistas poderão investigar os processos físicos envolvidos.[The Astrophysics Journal, Daily Mail UK, Nasa, arXiv.org (PDF), Centro de Astrocomputação de Alta Performance da Universidade da Califórnia]

4 comentários

  • Andre Luis:

    É legal observar a rotação das galáxias neste vídeo e perceber como o tempo é algo relativo. O que para nós humanos seria algo muito demorado e lento como uma rotação completa de uma galáxia, para o universo parece ser algo rápido e natural como é mostrado nesta simulação.

  • The Solar System:

    Interessante a matéria.

  • Alberto Campos:

    O que mais vemos em cosmologia são estas afirmações: Estavamos errados quanto a isto ou aquilo. É claro que as galáxias levam muito tempo para se estabilizarem. Cada encontro com uma outra galáxia, destabiliza tudo e leva um tempo para se estabilizar novamente.

    • Cesar Grossmann:

      Não poderia ser diferente, Alberto. A tecnologia evolui, o que antes não podíamos ver, agora vemos. Ninguém pode, em sã consciência, fazer uma afirmação que não pode provar, e chamar de ciência.

      Não dava para dizer que as galáxias estabilizavam-se lentamente quando as evidências que haviam era de que a estabilização acontecia rápido para todas elas (e para algumas galáxias isto é verdade, a estabilidade veio rapidamente).

      O que você queria, que a ciência acertasse 100% de tudo que afirma, logo de cara? Que nenhum desenvolvimento tecnológico jamais descobrisse coisas novas? Que a invenção da luneta não mostrasse mais nenhuma estrela ou as luas de Júpiter? Ou que os homens da caverna olhassem para o céu, e um deles declarasse “sou astrônomo” e a partir daquele momento falasse tudo que há no universo só por que ele “é astrônomo”?

      Não funciona assim. Quando surgem novas evidências, é um sinal de humildade e sabedoria reconhecer “estávamos errados” e voltar para o quadro-negro. E é o que a ciência faz, é o que os cientistas fazem. Eles usam o corpo de evidências que conseguem obter, e criam modelos para explicar o universo (se não fizessem isto, não seriam cientistas) e, quando novas evidências surgem, que contradizem o modelo, eles refazem o modelo ou abandonam-no e fazem novo modelo (se não fizessem isto, não seriam cientistas).

      Não é errado questionar as teorias da ciência – a própria ciência faz isto. É errado questioná-las baseado na incredulidade pessoal – os “céticos” fazem isso – ou em dogmas religiosos – os fanáticos fazem isso.

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