Analisar cocôs fossilizados é uma das ferramentas que a ciência usa para aprender sobre os estilos de vida e o mundo em que os seres viviam no passado. Usando os resíduos antigos, os pesquisadores podem desvendar um pouco suas histórias.
A maioria dos métodos utilizados para examinar esse tipo de fóssil, mais comumente chamado de coprolito, estão bastante desatualizados, no entanto.
Os cientistas usam principalmente técnicas de imagem bidimensionais que exigem cortar fatias da amostra para vê-las de perto. Os métodos de imagem tridimensional podem deixar passar as características mais pequenas, como pelos ou pernas de insetos.
Agora, uma equipe de cientistas suecos descobriu uma maneira melhor de revelar os segredos dos cocôs velhos: aceleradores de partículas.
O método
Um tipo especial de acelerador, chamado síncrontron, lança elétrons para correr em torno de uma “pista”. No caso deste estudo, os 800 metros da European Synchrotron Radiation Facility.
Cada vez que os elétrons mudam de direção, eles liberam raios-X de alta potência em um tubo onde o cocô está.
Esta é a primeira vez que pesquisadores analisam fezes fossilizadas com esse tipo específico de imagem, denominada “microtomografia de contraste de fase por propagação”. Uma vez que os raios-X atingem o cocô, são usados para criar uma imagem baseada na luz que foi e não foi absorvida, com uma melhor resolução do que antes era possível.
Os cientistas esperam que muitos organismos raros e novos sejam descobertos nos fósseis, com esta capacidade maior de estudá-los.
Resultados
Nos testes, os pesquisadores analisaram o cocô de um animal marinho, descobrindo que continha pedaços de peixes e bivalves. Outro cocô claramente continha partes de um besouro, e talvez pertencesse a algum tipo de lagarto do tamanho de um cachorro. Estamos falando aqui de amostras de milhões de anos.
“Analisar os coprolitos neste nível de detalhe abre todo um novo universo de possibilidades de pesquisa para os interessados em reconstruir a paleobiologia de organismos extintos”, disse o professor de antropologia Terry Harrison, da Universidade de Nova York. “A parte complicada vai ser identificar os produtores dos coprolitos, que inevitavelmente serão a parte crítica da equação”.
Por conta desse problema, também existem críticos do novo método. De acordo com o professor de paleontologia Robert Reisz, da Universidade de Toronto, o impacto científico da tecnologia é modesto, justamente porque apenas indica que peixes maiores estavam comendo peixes menores e que um vertebrado terrestre bastante grande comeu besouros como parte de sua dieta.
“Para completar a história, seria preciso saber quem estava respondendo ao chamado da natureza”, disse o cientista, ou seja, quem estava fazendo os cocôs. [Gizmodo]