Uma grande parte do leite humano não pode ser digerida por bebês e parece ter um propósito bem diferente da nutrição infantil: de influenciar a composição das bactérias no intestino da criança.
Os detalhes desta relação triangular entre a mãe, a criança e os micróbios do intestino estão sendo investigados por três pesquisadores. Eles descobriram que uma cepa particular de bactéria, uma subespécie de Bifidobacterium longum, possui um conjunto especial de genes que permitem que ela tenha sucesso no componente indigestível do leite.
Esta subespécie é comumente encontrada nas fezes de crianças. Ela cobre o forro do intestino do bebê, protegendo-o de bactérias nocivas.
As crianças presumivelmente adquirirem a cepa especial de bifido de suas mães, mas, estranhamente, ela ainda não tenha sido detectada em adultos.
A substância indigesta que favorece a bactéria é uma enorme quantidade de açúcares complexos derivados de lactose, o principal componente do leite. O genoma humano não contém os genes necessários para quebrar os açúcares complexos, mas a subespécie bifido tem, segundo os pesquisadores.
Os cientistas pensavam que os açúcares complexos não tinham nenhum significado biológico, apesar de constituírem até 21% do leite. Além de promover o crescimento da estirpe de bifido, eles também servem como chamarizes para as bactérias nocivas que possam atacar o intestino do bebê.
Os açúcares são muito semelhantes àquelas substâncias encontradas na superfície de células humanas, e são construídos no peito pelas mesmas enzimas. Muitas bactérias tóxicas e vírus “grudam” às células humanas se encaixando nos açúcares da superfície. No caso das crianças, eles se ligarão aos açúcares complexos do leite. Os estudiosos acreditam que as mães têm evoluído para deixar este material liberado para a criança.
Os pesquisadores vêem o leite como “um produto da evolução surpreendente”, fortemente moldado pela seleção natural, crucial para a sobrevivência da mãe e da criança. Do ponto de vista do bebê, que nasce em um mundo cheio de micróbios hostis, com um sistema imunitário inexperiente e sem o ácido do estômago cáustico que em adultos mais mata bactérias, qualquer elemento no leite que protege a criança a fará ser fortemente favorecida pela seleção natural.
Os pesquisadores estão tentando “desconstruir” o leite, pois acreditam que embora ele tenha sido projetado para as crianças, suas lições podem ser aplicadas aos adultos. Os açúcares complexos, por exemplo, são evidentemente uma forma de influenciar a microflora intestinal, de modo que em princípio poderia ser usado para ajudar os bebês prematuros, ou aqueles que nasceram por cesariana.
Por muito tempo cientistas acharam que não havia fonte de outros açúcares a não ser no leite humano, mas eles foram recentemente detectados no soro, um subproduto de resíduos de queijo. Os três pesquisadores planejam testar os açúcares complexos para o benefício em bebês prematuros e em idosos.
As proteínas do leite também têm funções especiais. Uma, chamada alfa-lactoalbumina, pode atacar as células tumorais e infectadas por vírus, restaurando sua capacidade perdida de cometer “suicídio celular”. A proteína, que se acumula quando uma criança é desmamada, também é um sinal para o peito remodelar-se de volta ao estado normal.
Tais resultados deixaram os três investigadores cientes de que cada componente do leite provavelmente tem um papel especial. Está tudo lá para um propósito, então a mensagem deles para todas as mães é: por favor, amamentem! [NewYorkTimes]