O Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) está de volta à ativa. E este é momento decisivo para os físicos caçadores do bóson de Higgs: agora ou vai ou racha.
Embaixo dos alpes da fronteira entre França e Suíça, perto de Genebra, a maior máquina construída até hoje está se preparando para sua investida final sobre a partícula de Deus, como também é conhecido o bóson.
Ano passado, o Cern, o maior laboratório do mundo, fez um anúncio de que havia achado pistas do tão falado bóson de Higgs, o que, mais tarde, se mostrou precipitado. Nos próximos seis meses, os cientistas do laboratório irão explicar a existência da partícula ou forçar os físicos a rever alguns de seus conceitos. O LHC foi consertado e está fazendo uma série de testes antes de começar as colisões de alta energia na semana que vem.
Por quase 50 anos, a partícula – cuja existência foi inicialmente postulada em 1964 pelo físico britânico Peter Higgs – passou despercebida, já que as ferramentas científicas não eram poderosas o suficiente para detectá-la. Mas, agora, entre o labirinto de paredes do Cern, engenheiros estão preparando a ofensiva.
Os físicos, em geral, não só acreditam que o bóson está lá, como também que suas propriedades estão dentro de um certo parâmetro. Se for provado que a partícula não existe, ou que suas propriedades são diferentes do previsto, as equações precisarão ser revistas – fato que enche os físicos de nervosismo e ansiedade.
E por esse motivo, aliado à revisão do LHC nos últimos 18 meses, a atmosfera no Cern é intensa. Não é à toa que o diretor-geral do laboratório, Rolf-Dieter Heuer, já instruiu seus cientistas a acharem uma resposta sobre o bóson antes do outono (no hemisfério norte).
A pressão é tanta que os engenheiros aumentaram a potência do LHC de sete tetraeletronvolts (TeV) para oito, dando a cada partícula microscópica a potência equivalente a de um trem Eurostar viajando em velocidade máxima.
Segundo as teorias da física, Higgs é uma partícula subatômica considerada uma das matérias-primas da criação do universo e, diferente dos átomos, as partículas de Deus não teriam nenhum elemento em sua composição. Mas sua importância reside no fato de dar chancela a uma das mais aceitas teorias acerca do universo: o Modelo Padrão.
Esse modelo explica basicamente como outras partículas obtiveram massa e, de acordo com ele, o universo foi resfriado após o Big Bang, quando uma força – conhecida como Campo de Higgs – formou-se junto dos bósons de Higgs, fazendo a transferência de massa para outras partículas fundamentais.
O Cern custa 690 milhões de libras (mais de 2 bilhões de reais) todos os anos aos cofres europeus, por isso a pressão por resultados é cada vez maior, ainda mais em tempos de crise, quando cortes orçamentários são tão corriqueiros.
Assim, começa mais um episódio da reconciliação da física quântica – o mundo subatômico – e a relatividade de Einstein – o mundo de estrelas, galáxias e buracos negros –, que pode, e deve, atravessar o nosso século.[Telegraph]