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Alimentos transgênicos causaram tumores em ratos: mito ou realidade?

Ano passado, um estudo francês supercontroverso levantou a questão de que ratos alimentados com milho geneticamente modificado da Monsanto, ou expostos ao seu herbicida mais vendido, sofreram tumores e múltiplos danos nos seus órgãos.

Alimentos transgênicos causam tumores?

Apesar de ser bastante criticada, a pesquisa foi publicada na revista científica Food and Chemical Toxicology, o que deixou algumas pessoas com a pulga atrás da orelha. Agora, a própria revista resolveu retirar o artigo do pesquisador Gilles-Eric Seralini, da Universidade de Caen, por descobrir, depois de um ano de investigação, o que mais de 700 cientistas já haviam dito: que ele não cumpre as normas científicas.

Seralini havia concluído em sua “pesquisa” que ratos alimentados com uma dieta contendo NK603, uma variedade de semente tolerante às aplicações do herbicida Roundup da Monsanto, ou que ingeriam água contendo Roundup a níveis permitidos nos Estados Unidos, morriam mais cedo do que ratos alimentados com uma dieta normal.

Seralini

No momento da sua publicação original, em setembro de 2012, centenas de cientistas de todo o mundo já questionaram Seralini. A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos emitiu um comunicado em novembro do mesmo ano dizendo que o estudo tinha defeitos graves no seu projeto e metodologia, e não atendia aos padrões científicos aceitáveis.

Poucas semanas depois de sua aparição na revista científica, mais de 700 cientistas assinaram uma petição online pedindo que Seralini liberasse todos os dados brutos de sua pesquisa.

Na sua declaração da retirada, a Food and Chemical Toxicology disse que, à luz destas preocupações, também havia pedido para ver os dados brutos do estudo. Segundo a revista, Seralini concordou e forneceu todo o material que foi solicitado pelo editor-chefe do veículo.

Embora tenha recebido muitas cartas expressando preocupações sobre a validade das conclusões do estudo francês, incluindo denúncias de fraude, a revista disse que sua própria investigação não encontrou “nenhuma evidência de fraude ou deturpação intencional dos dados”.

Como principal motivo para a retirada, a Food and Chemical Toxicology afirmou que foi o tamanho da amostra do estudo era muito pequeno – isso significa que nenhuma conclusão definitiva poderia ser alcançada a partir dele.

“Essa retirada vem depois de uma análise minuciosa e demorada do artigo publicado e os dados que ele relata, juntamente com uma investigação sobre o peer-review [revisão feita por outros cientistas] por trás do artigo”, disse a revista em um comunicado.

Alguns cientistas saudaram a decisão da Food and Chemical Toxicology em despublicar o estudo, embora outros tenham dito que a retirada veio tarde demais.

“As grandes falhas neste trabalho tornam sua retirada a coisa certa a se fazer”, disse Cathie Martin, professora da John Innes Centre. “A cepa de ratos utilizados é altamente suscetível a tumores depois de 18 meses, com ou sem OGM (organismos geneticamente modificados) em suas dietas”.

David Spiegelhalter, professor da Universidade de Cambridge, disse que estava “claro até mesmo em uma leitura superficial que este trabalho não estava apto para publicação”. Neste caso, segundo ele, “o processo de revisão por pares não funcionou corretamente”. [Reuters, DTA]

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