Pergunta que até hoje não encontrou solução entre os historiadores: quem foi o primeiro africano a pisar na América? A teoria mais aceita é que tenha sido algum escravo trazido de um navio negreiro no início do século XVI, quando esse sistema econômico começou a tomar forma. Mas a genética, com uma ajudinha da arqueologia, parece ter finalmente encontrado a resposta definitiva: foram dois homens na tripulação de Cristóvão Colombo, já em 1492.
Usando a análise do DNA de ossos humanos escavados de um cemitério em La Isabela, República Dominicana – a primeira cidade colonial nas Américas – o novo estudo reforça a teoria de que os africanos cruzaram o Atlântico pelo menos 150 anos antes do que se imaginava. Uma época onde os “nossos” indígenas ainda nem podiam desconfiar da desgraça que aqueles estranhos homens brancos trariam do outro lado do Atlântico.
Mas não estamos falando de Brasil, e sim de uma colônia na América Central. La Isabela foi fundada em 1494, na segunda viagem de Colombo ao Novo Mundo, dois anos depois da primeira. Dezessete navios trouxeram consigo mais de 1.700 europeus – entre os quais havia agricultores, construtores, padres e o pequeno número de navegadores que deram carona a eles – na ilha de Hispaniola, que hoje é dividida entre a República Dominicana e o Haiti. Mais dois anos se passaram, período no qual 300 dos desbravadores morreram de doenças variadas. Em 1498, ano em que Vasco da Gama chegava às Índias, La Isabela foi abandonada.
No ano passado, novas investigações aconteceram na ilha. Um levantamento sugere que até sete dos 49 esqueletos exumados do cemitério local haviam pertencido a africanos. Os indicativos: semelhantes àqueles com os quais se identificam dinossauros. O carbono e os isótopos de estrôncio no esmalte dos dentes, principalmente, aproximam tais suspeitas da realidade.
Foram analisados o fêmur e um dente molar de cada um dos 10 esqueletos “possivelmente africanos”, desenterrados entre 1983 e 1991. Os testes de DNA, por fim, jogaram um pouco de água na fervura dos pesquisadores. Mas não destruíram a teoria: dos sete que se imaginavam, dois parecem realmente ter sido africanos. Os pesquisadores explicam que tais africanos, provavelmente, faziam parte da turma que Colombo levou para colonizar o novo território, mas como foram parar numa dessas caravelas permanece um mistério. Certamente, executavam um serviço que não se distinguia muito daquele que fizeram os milhares de negros que cruzaram o oceano nos três séculos seguintes. [New Scientist]