Anões de jardim já foram pessoas de verdade

Por , em 8.06.2014

Calma, não estamos falando de um Pinóquio às avessas. O que acontece é que o século XVIII foi um ótimo momento para ser rico. Tá, imagino que sempre seja bom ser rico, mas os anos 1700 foram uma época de excessos monumentais e muita devassidão. Não que isso seja tão surpreendente, quando pensamos que estamos falando sobre a era do Marquês de Sade, de Maria Antoineta e dos Clubes do Inferno – realizados na Abadia de Medmenham, estas reuniões frequentadas pela elite da Grã-Bretanha e da Irlanda constituíam-se de pródigas bebedeiras e orgias sexuais. É, e você achando que o século XXI que estava perdido.

Claro, a riqueza e o poder nem sempre tomaram formas bizarras. Na Inglaterra gregoriana, nobres exibiam a sua riqueza de um modo completamente diferente – e muito mais estranho. Ao invés de dar festas de arromba ou orgias selvagens, essas pessoas contratavam eremitas para acampar em seus gramados.

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Na Inglaterra do século XVIII, os jardins eram o centro das atenções. Porém, ao invés de simplesmente plantar algumas flores ou esculpir alguns elefantes em topiaria, a elite britânica queria paraísos de proporções celestiais. E que melhor maneira de capturar toda a elegância do Jardim Éden do que contratando seu personal andarilho?

Buscando este ornamento extremo, aristocratas contratavam pessoas aleatórias para vestir-se como monges ou druidas e viverem em pequenas casas ou às vezes cavernas. Seus contratos normalmente duravam sete anos e, ao longo desse tempo, os “eremitas” não podiam cortar o cabelo, tomar banho ou falar com ninguém. Muitas vezes, eram pagos para andar descalços e só eram autorizados os mais simples dos pertences, como um tapete, uma ampulheta e uma Bíblia.

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Esta prática absolutamente bizarra data do Império Romano. Segundo o historiador Gordon Campbell, o imperador Adriano construiu um pequeno eremitério para seu uso pessoal. Alguns séculos mais tarde, o Papa Pio IV seguiu o exemplo, criando o seu próprio refúgio para meditação e reflexão. De alguma forma, ao longo dos anos, essa ideia se transformou no esquema de decoração mais estranho da história.

Claro, supondo que você não fosse um inquilino humilde forçado a fazer aquilo para o seu mestre, “eremitar” poderia ser uma profissão lucrativa. As pessoas eram frequentemente pagas de 400 a 600 libras por ano – nos idos de 1700, isso era muito dinheiro. Por tal fortuna, eles alegremente deixavam suas unhas e cabelo crescerem. Ocasionalmente, até mesmo vinho era servido em piqueniques no jardim.

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A prática era estranhamente popular em toda as Ilhas Britânicas e até mesmo alguns aristocratas do restante da Europa pegaram a mania.

Mas por que tantas pessoas queriam homens mau cheirosos e sujos vivendo em seus quintais? Tudo isso tinha a ver com uma obsessão bizarra com a ideia de “melancolia”. Evidentemente, na época as pessoas valorizavam muito a sobriedade, e nada simboliza a reflexão espiritual e o sacrifício pessoal melhor do que um eremita. E, aparentemente, se você possuísse um desses atores introspectivos, isto significava que você era realmente uma pessoa muito melancólica.

Esse costume bizarro não durou muito tempo e, com a chegada dos anos 1800, eremitas profissionais acabaram desempregados. No entanto, seu legado vive até hoje. Da próxima vez que você passar por um jardim, dê uma rápida olhada e veja se você consegue identificar o homenzinho de chapéu vermelho escondido no canteiro. Afinal, o eremita ornamental não desapareceu, ele simplesmente evoluiu para o anão de jardim. [Atlas Obscura, Boston Globe, Knowledge Nuts]

1 comentário

  • Rafael Cavalheiro:

    Incrível, sempre irei lembrar quando avistar um anão, hahahaha

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