Muitas mulheres com problemas cardíacos podem seguramente ficar grávidas ou usarem contraceptivos para evitar a gravidez. Porém, certas condições severas de cardiopatia congênita aumentam os riscos de complicações de gravidez e de efeitos adversos de diferentes opções de controle de natalidade.
Uma pesquisa recente, que envolveu 536 mulheres alemãs que tinham nascido com defeitos no coração, descobriu que muitas das mulheres com altos riscos relacionados à gravidez ou a métodos anticoncepcionais não tinham conhecimento deles.
Os pesquisadores descobriram que quase metade das mulheres do estudo não tinham sido sequer orientadas sobre possíveis riscos.
Uma das conclusões do estudo é que mulheres com doença cardíaca congênita precisam ser cautelosas em suas escolhas de anticoncepcional, porque algumas opções podem aumentar seus riscos cardíacos.
No grupo de estudo alemão, cerca de um terço das mulheres tinham contra-indicações ao uso de pílulas anticoncepcionais contendo estrogênio e progesterona. Essas pílulas podem causar coágulos sanguíneos e aumentar a pressão arterial em algumas pessoas.
O grupo do estudo incluía pessoas com risco “absoluto”, ou seja, com fortes contra-indicações ao uso da pílula (mulheres com condições tais como insuficiência cardíaca grave, cardiopatia cianótica, que limita a circulação de oxigênio pelo corpo, histórico de coágulos sanguíneos, e uma cardiopatia rara, chamada síndrome de Eisenmenger, marcada pela pressão arterial elevada nos pulmões), e pessoas com risco “relativo” ao uso de contraceptivos orais (mulheres que fumam ou têm pressão arterial elevada).
De todas essas mulheres em situação de risco, que não deviam fazer uso de pílulas anticoncepcionais, 34 delas, ou 20%, estavam tomando-as. Além disso, 43% das mulheres em geral disseram que nunca haviam sido orientadas sobre controle de natalidade.
Além de pílulas anticoncepcionais, alguns outros anticoncepcionais podem acarretar riscos para algumas mulheres. Infelizmente, os pesquisadores ainda não sabem ao certo, por exemplo, se os dispositivos intra-uterinos (DIU) podem representar um risco de endocardite, que é uma infecção do revestimento do coração, em mulheres vulneráveis, como aquelas que já realizaram um transplante de coração.
Uma proporção ainda maior do grupo não sabia que a gravidez também apresenta riscos especiais para elas. 48% das mulheres disseram que seus médicos nunca tinham falado sobre gravidez ou quaisquer riscos relacionados com a gravidez associados com sua condição cardíaca.
Durante a gravidez, o volume de sangue e a frequência cardíaca das mulheres aumentam, o que coloca uma pressão acrescida sobre o coração. Mulheres com certas condições cardíacas, como insuficiência cardíaca grave, cardiopatia cianótica e Eisenmenger, têm alto risco de complicações.
60 mulheres do estudo se encaixam neste grupo de alto risco, e 39 delas estavam em idade reprodutiva e sexualmente ativas. Além disso, 28% delas não estavam utilizando qualquer controle de natalidade, o que significa que poderiam facilmente engravidar e sofrer tais complicações.
Os resultados da pesquisa apontam para a necessidade de uma maior conscientização dos médicos sobre os riscos de certos contraceptivos para mulheres cujos corações já estão comprometidos.
Segundo os pesquisadores, não é de estranhar que muitas mulheres no estudo não tinham qualquer aconselhamento sobre gravidez e contracepção, pois a área da doença cardíaca congenital adulta (a área médica que cuida de adultos que sobreviveram a defeitos cardíacos congênitos) é nova, mesmo no campo da cardiologia.
Ou seja, muitos médicos, inclusive ginecologistas, podem não estar cientes das questões específicas relacionadas com a gravidez e com os vários tipos de defeitos cardíacos congênitos. [Reuters]