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Ativistas paquistaneses se apossam da internet para espalhar novas ideias

O “Maestro dos Dentes” é um dentista e blogueiro paquistanês. Mas não, ele não fala de questões relacionadas à boca na sua mídia social. Ao invés disso, ele mete a boca nas questões que acha importante: seja o gatilho dos soldados, os burocratas corruptos ou a intromissão dos EUA.

O Maestro dos Dentes faz parte de um grupo crescente de blogueiros, tweeters e outros que estão usando a internet para influenciar a sociedade paquistanesa e o governo – a web é a chance desses ativistas fornecerem uma perspectiva diferente da mídia tradicional do Paquistão, onde a TV convervadora tende a dominar a discussão nacional.

Não está acontecendo nenhuma revolução, como no Egito, onde os jovens usaram o Facebook, o Twitter e outras ferramentas da web para organizar protestos.

Mas o uso dessas ferramentas está crescendo tão rapidamente no Paquistão, que mesmo oficiais dos EUA notaram, recentemente copatrocinando o primeiro encontro internacional de mídia social do país, que atraiu cerca de 200 pessoas.

“A mídia social tem criado um diálogo de pensamentos opostos e tentado reuni-los em algum tipo de entendimento”, disse o Maestro dos Dentes, cujo nome verdadeiro é Awab Alvi.

Paquistão, um país de cerca de 187 milhões, tem cerca de 20 milhões de usuários de internet. De acordo com estatísticas, sua taxa de penetração é um pouco maior do que a da vizinha Índia, mas um pouco menor do país muçulmano Indonésia. Há pelo menos 4,3 milhões de usuários do Facebook no Paquistão, enquanto o Twitter é o nono site mais popular do país.

Com certeza, muitos dos blogueiros do Paquistão promovem teorias de conspiração islâmicas e anti EUA, e até mesmo agendas militantes.

Os usuários da internet são inclinados na direção dos mais ricos, moradores de cidades, com escolaridade. A maior parte da blogosfera paquistanesa está em inglês, entretanto, a língua urdu também está crescendo.

Embora os amantes de mídia social não representem as massas do Paquistão, eles representam a “elite” que detêm as alavancas do poder. De muitas pequenas maneiras, os ativistas sociais do Paquistão já fizeram sentir sua presença.

Um dos mais famosos usuários da mídia social no Paquistão é Sohaib Athar, o homem que, sem saber, tuitou ao vivo a invasão dos EUA que matou Osama bin Laden em maio, ganhando milhares de novos seguidores e proporcionando uma visão inteligente de um evento chocante.

Vídeos também foram colocados na internet mostrando a brutalidade alegada das forças armadas do Paquistão, ultrajando civis e levando a investigações (embora raramente com resultados divulgados). E durante as inundações em todo o país em 2010, os ativistas da mídia social ajudaram a angariar dinheiro.

Os blogs paquistaneses são a chance de desabafar, não importa qual sua filosofia. Alvi, o dentista, recentemente escreveu sobre o assassinato de um homem desarmado pelas tropas de segurança do país.

O incidente foi capturado em fita, postado no YouTube e passado na televisão, fazendo-o imaginar o que seria necessário para as massas se levantarem e porem um fim tais brutalidades. “Será que esta matança flagrante de um indivíduo jovem (independentemente de sua inocência ou culpa) pode ajudar as pessoas a erguerem contra isso?”, escreveu Alvi.

Os ativistas dizem que se preocupam com sua segurança, com alguns observando com ironia que a internet é também um lugar para recrutar militantes suicidas e postar fitas de decapitações.

Alguns dizem que receberam avisos casuais para “ter cuidado” com agentes do governo. E as autoridades paquistanesas já proibiram temporariamente vários sites no passado, incluindo o Facebook, por conteúdo considerado ofensivo aos muçulmanos.

Mas, no final, “há um limite para quanto tempo alguém pode ficar com medo”, disse Jehan Ara, que também tem um blog. “Temos a sociedade que merecemos”, finaliza.[MSN]

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