Em um relatório divulgado em 2007, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (PIMC) estimou que o aumento no nível do mar seria entre 19 e 59 centímetros até 2100. Mesmo antes de ser lançado, ele já estava desatualizado: cientistas estão chegando cada vez mais a conclusões muito menos otimistas que as mostradas no relatório.
A boa notícia é que cenários mais dramáticos, que antecipavam um colapso repentino do manto de gelo da Groenlândia, agora parecem menos prováveis. Pelo outro lado, existe um consenso que as estimativas do PIMC são fora da realidade. O destino do gelo do planeta determina em larga escala a velocidade e tamanho do aumento do nível do mar. “Vários novos resultados foram publicados desde então e mostram que esta conclusão conservadora não se sustenta”, afirma Eric Rignot, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.
No século XX, o nível aumentou aproximadamente 17 centímetros, e esta taxa está aumentando cada vez mais – e continuaria a aumentar, mesmo se todas as emissões de carbono parassem hoje. “A taxa atual de aumento do nível do mar continuaria por séculos se as temperaturas fossem constantes, e isso adicionaria aproximadamente 30 centímetros por século ao nível do mar”, afirma Stefan Rahmstorf, do Instituto de Pesquisa do Impacto Climático, na Alemanha. “Se queimarmos todos os combustíveis fósseis, provavelmente acabaremos com muitos metros de aumento no nível do mar em longo prazo, muito mais que dez metros”, diz Rahmstorf.
Isso pode parecer dramático, mas o nível do mar era mais de 120 metros mais baixo na era glacial, e 70 metros mais elevado durante períodos mais quentes. Não há dúvida de que, se o planeta aquecer, o mar vai subir. A maior contribuição para o aumento dos níveis do mar no último século foi o derretimento de geleiras, e, se isso continuar, este fator pode adicionar mais 10 a 20 centímetros ao mar nos próximos cem anos. Se o aumento continuar no ritmo atual, Rignot acredita que o aumento pode ser maior que um metro até 2100.
Rahmstorf acredita que o aumento do nível da água é proporcional ao aumento da temperatura. Quanto mais quente a Terra ficar, mais rapidamente será o derretimento do gelo polar e a expansão da água do mar. Isso se comprova nos últimos 120 anos: “Existe uma correlação estatisticamente alta entre o aumento da água do mar e a temperatura mesmo na época pré-industrial”, afirma o pesquisador. Baseado nos relatórios de emissões de carbono do PIMC, o nível do mar deveria subir entre 0,5 e 1,4 metros – e a estimativa maior é mais provável, pois mesmo os níveis mais altos previstos pelo PIMC não correspondem à realidade atual. “Sinto agora que a maioria dos pesquisadores do nível do mar concorda comigo que as projeções do PIMC são muito baixas”, afirma Rahmstorf.
As estimativas atuais encaixam bem com recentes estudos que sugerem que o nível do mar chegou a aumentar em até 1,6 metros em alguns séculos. Paul Blanchon, da Universidade Autônoma do México, em Cancún, vem estudando recifes de corais de mais de 120 mil anos na Península de Yucatán, no México, formadas durante o último período interglacial, quando o nível do mar era 6 metros maior que hoje em dia. As descobertas de Blanchon e sua equipe sugerem que, em um momento, o mar subiu três metros em 50 a cem anos.
A maior parte dos especialistas no assunto acredita na previsão do aumento de um metro até o fim do século. Mas é preciso lembrar que o mar não vai parar neste ponto: “Quando falamos sobre o mar aumentando em um ou dois metros, lembre que vai continuar subindo depois de 2100”, alerta Rignot. “As pessoas tentam diminuir a significância disso dizendo que ‘Oh, a Terra já passou por mudanças muito maiores que esta, no passado geológico’”, diz Pfeffer. “Isso é verdade, mas é completamente irrelevante. Não estávamos aqui na época”.
Consequências
Se o aumento de um metro no nível do mar parece pouco para você, pense assim: aproximadamente 60 milhões de pessoas vivem em uma área que fica a um metro acima do nível do mar, e este número deve crescer para 130 milhões de pessoas até 2100.
A maior parte desta população vive em deltas de rios no sul e sudoeste da Ásia. Partes de países como Bangladesh, assim como algumas ilhas inteiras, como as Maldivas, iriam ficar completamente submersas.
De acordo com um relatório de 2005, o aumento de um metro no nível do mar deve afetar 13 milhões de pessoas em cinco países europeus, além de destruir a propriedades somando um valor de 600 bilhões de euros (mais de 1 trilhão de reais), sendo que os Países Baixos seriam os mais afetados, devido à sua baixa localização em relação ao nível do mar.
Além de todas essas previsões, tempestades destruidoras que acontecem a cada cem anos poderiam começar a acontecer a cada quatro anos, fazendo com que as cidades atingidas fossem abandonadas, em vez de reconstruídas. [New Scientist]