Lembra-se de quando você mal tinha consciência do que acontecia à sua volta? Seus pensamentos eram todos voltados a brincar e expressões do tipo lição de casa, vestibular e Imposto de Renda definitivamente não faziam parte da sua vida. Pois bem, agora você pode voltar a essa época graças a um corpo virtual de uma criança de 4 anos de idade.
Mel Slater, da Universidade de Barcelona, na Espanha, e seus colegas colocaram 30 pessoas em um ambiente de realidade virtual (RV), no corpo de uma criança de 4 anos de idade ou de um adulto em escala reduzida, que apresenta a mesma altura da criança. O corpo virtual, que se movia em sincronia com os movimentos do corpo verdadeiro, poderia ser visto a partir da perspectiva em primeira pessoa ou como imagens refletidas em um espelho no ambiente VR.
Todas as pessoas presumiam que os objetos virtuais fossem maior do que realmente eram, mas aqueles “encarnados” no corpo da criança fizeram suposições ainda piores.
A ciência sabe que nós utilizamos o tamanho do nosso próprio corpo para julgar as dimensões de objetos à nossa volta. Agora, a equipe de Slater mostrou que processos cognitivos, tais como memória da infância, também podem desempenhar um papel importante nesse contexto.
Pesquisas anteriores realizadas pela equipe de Slater mostraram que, quando uma pessoa adquire um tipo de corpo que ela nunca havia experienciado antes, algumas expectativas sociais e culturais muitas vezes influenciam o modo como ela se relaciona com esse novo corpo.
Situações que vivenciamos em uma realidade virtual também podem ter efeitos profundos sobre o nosso comportamento no mundo real. Em um estudo diferente, realizado por pesquisadores da Universidade de Stanford, na Califórnia, EUA, foi constatado que dar às pessoas poderes de super-herói em um ambiente virtual faz com que elas se comportem de maneira mais gentil e solícita na vida real.
Os pesquisadores afirmam que estudos com imagens cerebrais os ajudariam a compreender a reorganização que ocorre ao assimilar um novo corpo. A motivação vem de um projeto já existente que busca formas de colocar pessoas para controlar robôs (incorporação) com o tamanho de uma criança. “Nós julgamos ser melhor descobrir as consequências disso antes de tocar o projeto”, conta Slater.
Experimentos envolvendo incorporações já foram bem sucedidas ao transformar homens em meninas e ao auxiliar pessoas a aceitarem uma mão de borracha como sua própria. [New Scientist]