Corpo achatado e oval, cabeça curta, dois pares de asas retas, pernas com serrinhas (cursoriais, no jargão científico), antenas, colorações escuras. Onívoro, que come de tudo, literalmente, ela atinge até 10 centímetros de comprimento e é extremamente adaptável a novos ambientes, podendo viver longos períodos em situações extremas.
Já adivinhou de que se trata? Se ainda não, saiba que esse animal cosmopolita é referência na literatura fantástica, e merece lugar de destaque quando falamos no autor tcheco Franz Kafka (1883-1924).
Caiu a ficha, agora? É da barata que estamos falando. Esse inseto tão mal falado, contudo, é mais sofisticado e social do que os pesquisadores pensavam.
Cientistas franceses do Centro Nacional de Pesquisa Científica, em Rennes, na França, descobriram que as baratas são altamente sociais. Elas não só reconhecem os membros de suas famílias, como também detestam viver sozinhas e adoecem se são isoladas do grupo.
Além disso, formam sociedades igualitárias – não hierarquizadas e rígidas, como a das abelhas e formigas – e são capazes de tomar decisões coletivamente. Em muitas sociedades de outros insetos, somente a rainha tem o privilégio da procriação. Porém, na das baratas, qualquer uma pode procriar. Viva a democracia!
Sabe-se, atualmente, que existem aproximadamente 4 mil espécies de baratas catalogadas, mas só 25 obtiveram sucesso na adaptação necessária para viver entre as pessoas.
Nunca sós
O biólogo Mathieu Lihoreau, coordenador do estudo, explica que eles estudaram duas espécies em especial: a barata alemã (Blattella germanica) e a barata americana (Periplaneta americana).
Segundo Lihoreau, as baratas isoladas levaram mais tempo para mudar seu exoesqueleto (suas cascas) e, assim, demoraram para chegar à forma adulta. Por isso, pode ser que elas precisam do contato constante com outros da mesma espécie para poder se desenvolver. Os pesquisadores não sabem exatamente qual a razão disso.
E as fezes das baratas se mostraram elementos chave no reconhecimento. Elas não só permitem que as baratas sigam umas as outras, por meio de uma trilha de cheiro, como esse mesmo cheiro permite o reconhecimento de seus familiares.
Isso ajuda a impedir que elas acasalem com seus irmãos, por exemplo, mantendo sempre alta a variabilidade. De acordo com os cientistas, elas dominam formas emergentes de cooperação, que se beneficiam de habilidades sociais inesperadas. [BBC/Springer/Scielo/UniversityOfMinnesota/UniversityOfRhodeIsland/UniversityOfKentucky/Foto]