O cérebro interpreta ferramentas como extensões do corpo, de acordo com uma pesquisa recente. As pessoas que participaram do estudo utilizaram uma ferramenta usada para pegar objetos e depois tiveram que fazer o mesmo com as próprias mãos. O experimento mostrou que os movimentos depois do experimento eram mais lentos e desastrados.
Participantes com os olhos vendados também superestimaram o comprimento do próprio braço, depois de terem usado a ferramenta no exercício. A pesquisa parece confirmar uma hipótese antiga de que o cérebro modela ferramentas como partes do corpo humano.
“Há um grande debate na neurociência sobre a representação do corpo e do espaço”, afirma Lucilla Cardinali, do Instituto Nacional de Pesquisa Médica e Saúde da França. “Existem vários estudos sobre os efeitos das ferramentas, mas elas se concentram o efeito no espaço – nenhuma investigava o efeito no nosso corpo”, diz.
Cardinali e sua equipe testaram os efeitos dando aos participantes uma ferramenta similar à utilizada para catar lixo. Usando a ferramenta, eles tinham que levantar e substituir um pequeno bloco. Depois de alguns minutos realizando a tarefa, foi pedido que os participantes fizessem a mesma coisa com a própria mão, ou simplesmente que colocassem um dedo sobre o bloco.
A equipe percebeu que os participantes tinham performances muito diferentes fazendo as tarefas depois de usar o instrumento. Os movimentos eram mais lentos, e a atividade demorou mais – o que é considerado pelos cientistas como uma prova que o cérebro tem que se ajustar à falta da ferramenta.
Pensando bem
Mais reveladores ainda foram os experimentos feitos com os participantes com os olhos vendados, depois de usar os instrumentos. Um cientista encostava no cotovelo e na ponta do dedo do meio dos participantes, que tinham que encostar nos mesmos lugares com a outra mão. Depois de usar a ferramenta, eles apontaram lugares mais distantes do correto, como se o braço que tinha usado a ferramenta fosse maior. “Esta é a primeira prova definitiva que o uso de uma ferramenta modifica a representação do nosso corpo”, afirma Cardinali.
Patrick Haggard, do Instituto de Neurociência Cognitiva da Universidade de Londres, na Inglaterra, afirma que o estudo contrasta com pesquisas anteriores, que concentravam na percepção de espaço, e não no corpo em ação no espaço. “Estudos anteriores mostravam que o uso de ferramentas muda o modo que humanos e animais percebem o espaço exterior, trazendo objetos distantes para a proximidade”, afirma. “O mapa do corpo feito pelo cérebro não é estático: ele precisa se ajustar a mudanças que ocorrem com o crescimento, o envelhecimento e traumas, como uma amputação ou um machucado”, disse Haggard, que completa: “Este estudo mostra quão rapidamente esses ajustes acontecem”. [BBC]