Segundo os arqueólogos, a cerveja pode ter ajudado a levar ao surgimento da civilização. O argumento dos especalistas é de que os agricultores da Idade da Pedra cultivavam cereais não para encher seus estômagos, mas para transformá-los em cerveja. A teoria existe há 50 anos e, agora, um arqueólogo afirma que as evidências estão ficando mais fortes.
O advento da agricultura começou no período neolítico da Idade da Pedra, cerca de 11.500 anos atrás. Uma vez que os grupos nômades se estabeleceram e começaram a entrar em contato uns com os outros com mais frequência, isso estimulou a criação de costumes sociais mais complexos que definem a base das comunidades mais intrincadas.
Por exemplo, os povos neolíticos que viveram na grande área do sudoeste asiático se desenvolveram a partir da cultura natufiana, ou seja, foram pioneiros na utilização de cereais silvestres, que evoluiu para a verdadeira agricultura e um comportamento menos nômade. A explicação mais óbvia para o cultivo dessa espécie é que ela era utilizada para a alimentação.
Mas existem sinais que apoiam a ideia de que os grãos de cereais eram na verdade transformados em cerveja. Por exemplo, as pessoas andavam grandes distâncias para obter os grãos, apesar do enorme trabalho necessário para torná-los comestíveis, além do conhecimento dos arqueólogos de que as festividades eram reuniões importantes para a construção de comunidades.
Cereais, como cevada e arroz, representavam um elemento menor na dieta provavelmente por essa dificuldade em conseguir algo comestível a partir deles (é necessário reunir, peneirar, descascar, moer, tarefas muito demoradas). Por exemplo, nas tradicionais aldeias maias, o milho é usado para fazer “tortillas” e “chicha”, a cerveja fabricada lá. As mulheres gastam cinco horas por dia só moendo os grãos.
Entretanto, evidências na Síria sugerem que às vezes as pessoas faziam um esforço incomum apenas para adquirir os grãos de cereais – andavam de 60 até 100 km. Então, especula-se que, pelo trabalho duro associado aos grãos, isso poderia torná-los atraentes nas festas. Oferecer aos convidados alimentos que eram difíceis ou caros de se preparar, bem como a cerveja, pode ter sido um dos principais motivos para andarem tanto só para adquirir o grão.
Segundo os arqueólogos, isso não significa que beber cerveja por si só ajudou a iniciar o cultivo de grãos, mas esse contexto de festas, que liga a cerveja e o surgimento de sociedades complexas, é que é o ponto principal. As festas provavelmente eram mais do que simples encontros. As cerimônias têm importância social vital durante milênios.
Elas são essenciais nas sociedades tradicionais. As festas criam dívidas, facções, vínculos entre as pessoas, poder político, redes de apoio, e tudo isto é fundamental para o desenvolvimento de tipos mais complexos de sociedade.
Por todo o mundo, as festas tradicionais contêm alguns ingredientes quase universalmente presentes, como a carne, algum tipo de cereal (pelo menos no Hemisfério Norte, sob a forma de pão, mingau ou similares), e o álcool. Pelo tempo e esforço, nas sociedades tradicionais, o álcool é produzido quase que exclusivamente para ocasiões especiais, para impressionar os convidados, deixá-los felizes, e alterar sua atitude, favorável aos anfitriões.
Para os arqueólogos, a fabricação do álcool parece ter sido um desenvolvimento muito precoce relacionado com a domesticação inicial, observada durante o período neolítico na China, no Sudão, na época da primeira cerâmica na Grécia e, possivelmente, como um primeiro uso do milho.
Porém, os pesquisadores ainda não têm uma prova do consumo de cerveja nessa época, por exemplo, resíduos de cerveja no fundo de taças de pedra. [LiveScience]