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Cientistas descobrem animais abaixo do solo do oceano, oferecendo pistas para a vida além da terra

Visão da cavidade abaixo da superfície próxima a fontes hidrotermais em águas profundas. Imagem: CC BY-NC-SA Schmidt Ocean Institute.

Em uma descoberta impressionante, cientistas encontraram vida animal sobrevivendo sob o leito oceânico, desafiando expectativas e sugerindo que talvez não estejamos tão sozinhos no universo quanto pensávamos. A pesquisa recente, publicada na Nature Communications, revelou que as profundezas ocultas do oceano abrigam uma fauna diversificada, provando que, até onde há espaço, há uma chance de vida persistir.

Explorando um habitat extremo

A expedição foi conduzida pelo navio de pesquisa Falkor (too), usando um veículo remoto chamado SuBastian para vasculhar as entranhas do oceano. A 2.515 metros de profundidade no Oceano Pacífico oriental, em um trecho apelidado de Fava Flow Suburbs, a equipe perfurou rochas vulcânicas e levantou prateleiras de lava, buscando evidências de vida além da superfície. O que encontraram foi surpreendente: debaixo de uma camada de lava de 10 a 15 centímetros, havia cavidades onde vermes tubulares e mexilhões conviviam como vizinhos em um condomínio submarino.

Estes animais não apenas vivem, mas prosperam nesses abrigos quentes e escuros, com temperaturas na casa dos 18°C, comparáveis a um banho morno. Um dos vermes encontrados já havia passado dos 41 cm, uma verdadeira prova de que esses recantos escondidos não são apenas berçários, mas também residências permanentes. E, como se fosse um bufê no qual você leva seu próprio almoço, esses vermes dependem de bactérias específicas, que vivem dentro deles, para se alimentar.

Da crosta oceânica aos confins do espaço

A descoberta não apenas amplia o nosso entendimento sobre os ecossistemas dos oceanos, mas também nos faz pensar em lugares distantes, como as luas de Júpiter, Europa e Ganimedes. Sabemos que essas luas têm oceanos sob suas cascas de gelo, e se a vida pode se adaptar às cavernas subterrâneas do fundo do mar terrestre, por que não poderia existir em condições parecidas, milhões de quilômetros longe daqui?

A astrobiologia, o estudo das possibilidades de vida além da Terra, baseia-se em fatores essenciais como água e carbono, presentes tanto nos oceanos terrestres quanto em outros corpos celestes. Esses ingredientes, junto com uma pitada de sorte, orientam a busca por sinais de vida alienígena. Se criaturas conseguem encontrar refúgio embaixo da crosta oceânica, o céu, ou melhor, o subsolo, pode ser o limite quando se trata de exploração espacial.

Como animais e bactérias desafiam as previsões

Para descobrir o que vive no fundo do mar, os cientistas usaram o SuBastian para perfurar rochas e analisar fluidos das fontes hidrotermais. Ao abrir um pedaço do fundo do mar, encontraram um ecossistema de vermes tubulares como R. pachyptila e O. alvinae, além de mexilhões como B. thermophilus e algumas outras espécies marinhas que, sem pedir licença, fizeram suas casas nas fendas do subsolo oceânico. Essas espécies se aproveitam das cavidades aquecidas que, ao contrário do esperado, não se limitam a poucos metros de profundidade.

A previsão científica era de que, por causa do aumento de temperatura, a vida só conseguiria existir até alguns metros abaixo da crosta oceânica. Mas, como a vida gosta de contrariar as estatísticas, esses animais desafiaram a lógica e foram além, fazendo morada em condições adversas. Não por acaso, os cientistas ainda não têm clareza de até que ponto esses habitats subterrâneos se estendem, mas sabem que podem ser mais importantes do que se pensava para a regeneração e evolução dos ecossistemas das fontes hidrotermais.

O impacto para a biodiversidade global

A descoberta traz uma nova dimensão para a importância de proteger o fundo do mar. Ambientes ricos em minerais, como as fontes hidrotermais, são frequentemente alvo de operações de mineração em águas profundas. Contudo, esses locais abrigam formas de vida que, até recentemente, eram desconhecidas. A urgência para proteger essas áreas aumenta com cada nova descoberta de vida subterrânea, já que um simples erro poderia destruir ecossistemas que mal começamos a entender.

Os pesquisadores enfatizaram a necessidade de estratégias de conservação para essas regiões, pois a mineração poderia facilmente afetar os frágeis habitats subterrâneos. Afinal, o impacto humano no fundo do mar é tão real quanto em qualquer outro ecossistema, e a vida ali é tão valiosa quanto rara.

Um vislumbre do alienígena em casa

Curiosamente, esses ecossistemas de profundidade lembram descobertas feitas em outros ambientes extremos da Terra, como sob o Deserto do Atacama, no Chile, onde cientistas encontraram bactérias sobrevivendo a condições de seca extrema. Protegidas dos raios ultravioletas e posicionadas de forma a ainda realizar fotossíntese, essas bactérias se adaptaram ao ambiente inóspito. Essa flexibilidade da vida é uma pista importante para os cientistas que estudam onde e como ela poderia sobreviver em outros mundos.

No fundo do mar, algo semelhante ocorre: animais que perderam boca e intestino dependem inteiramente das bactérias que carregam para se nutrir. Assim, esses vermes e mexilhões, que parecem alienígenas para nossos padrões, nos ensinam que a vida não precisa seguir um único roteiro, mas pode encontrar suas próprias soluções criativas para prosperar.

O que vem a seguir na exploração das profundezas

Ainda há muito a aprender sobre até onde a vida pode ir sob o fundo do oceano. O próximo passo para os cientistas é determinar o limite onde as condições se tornam impossíveis para qualquer ser vivo. Eles pretendem explorar novas áreas e aprofundar o entendimento da ecologia subterrânea, o que pode fornecer respostas para perguntas que vão além dos limites da Terra.

Quem sabe o que mais encontraremos à medida que cavamos mais fundo, ou quando finalmente decidirmos explorar as profundezas das luas geladas de Júpiter? Pode ser que ainda não tenhamos encontrado nossos vizinhos intergalácticos, mas se há algo que essa descoberta nos ensina é que a vida é resiliente, engenhosa e sempre disposta a nos surpreender.

Estas descobertas não apenas nos mostram a complexidade dos ecossistemas marinhos, mas também sugerem que a vida pode existir em lugares que antes nem sonhávamos explorar.

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