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Cientistas descobrem cometa “rasante ao sol” que pode ser visível a olho nu este mês

Nas últimas semanas, o cometa Tsuchinshan–ATLAS tem iluminado o céu noturno. Em uma foto tirada da Estação Espacial Internacional (ISS), ele aparece flutuando sobre a atmosfera brilhante da Terra, como um ponto de luz viajando pelo espaço.

No final de outubro, os céus prometem um show raro: dois cometas iluminando a escuridão, cada um trazendo sua própria história de aventuras pelo espaço profundo. Cometas são como mensageiros gelados vindos de regiões remotas do sistema solar, e ver um deles a olho nu já é um evento especial. Mas, desta vez, teremos dois visitantes: o conhecido Tsuchinshan–ATLAS e o recém-descoberto C/2024 S1, que promete surpreender com uma dança arriscada ao redor do Sol.

Um visitante antigo e uma surpresa recente

Nas primeiras semanas de outubro, o cometa Tsuchinshan–ATLAS vem brilhando nos céus noturnos. Este viajante cósmico, que não se aproximava tanto da Terra há mais de 80.000 anos, foi descoberto em 2023 e parecia que se despedaçaria antes de nos visitar. Porém, desafiando expectativas, ele manteve sua forma enquanto fazia sua trajetória até nosso planeta. Desde então, tem sido observado e fotografado por amantes do céu noturno ao redor do mundo, mas, à medida que outubro avança, seu brilho vai lentamente se esvaindo.

Mas, quando os olhares estavam todos voltados para esse viajante de longa data, um novo intruso apareceu no palco estelar. Em 27 de setembro, astrônomos do projeto ATLAS, no Havaí, detectaram um novo cometa: o C/2024 S1. Inicialmente catalogado como “A11bP7I”, sua existência foi confirmada em seguida e ele recebeu um nome oficial. Este recém-chegado não promete ficar tímido, pois também poderá ser visto sem equipamentos especiais quando passar próximo à Terra em 24 de outubro.

A jornada arriscada do C/2024 S1

O C/2024 S1 tem uma rota ousada: em 24 de outubro, ele passará a cerca de 131,6 milhões de km do nosso planeta e, apenas quatro dias depois, irá quase “beijar” o Sol, passando a 1,2 milhão de km da superfície solar. Esse tipo de trajetória é chamada de “cometa rasante ao sol”, já que o astro aquece sua superfície ao ponto de evaporar seus gelos, criando uma longa e brilhante cauda. Se o cometa resistir ao calor escaldante do Sol, ele será lançado de volta para as regiões mais distantes do sistema solar.

Mas nem todos os cometas têm essa sorte. Em abril deste ano, outro cometa tentou uma manobra semelhante durante um eclipse solar total que escureceu grande parte da América do Norte. Infelizmente, essa aventura terminou em sua desintegração completa, vítima do abraço caloroso do Sol. Será que o C/2024 S1 terá mais sucesso em sua arriscada aproximação? A resposta só virá no final de outubro.

Em 24 de outubro, o cometa C/2024 S1 chegará ao seu ponto mais próximo da Terra, e quatro dias depois, fará uma passagem bem próxima ao redor do Sol. (Crédito da imagem: TheSkyLive.com)

Um brilho verde misterioso e fascinante

Curiosamente, as primeiras imagens do C/2024 S1 mostram um brilho verde ao seu redor, um tom raro entre os cometas. Esse fenômeno ocorre por causa de moléculas de dicarbono, que são formadas por dois átomos de carbono unidos, presentes na coma (a “atmosfera” que envolve o núcleo do cometa) e em sua cauda. Quando essas moléculas são expostas à intensa luz solar, elas emitem uma luminosidade verde, criando um espetáculo que lembra uma luz de néon natural. Um espetáculo incomum, que alguns astrônomos comparam ao brilho misterioso de uma aurora boreal em miniatura, viajando pelo espaço.

O dicarbono que causa esse brilho é um composto volátil, que se quebra rapidamente sob a intensa radiação solar. Assim, ver um cometa verde é sempre um evento passageiro, como uma estrela cadente congelada em movimento lento. Cometas verdes foram raros na história recente, mas, em março, um “primo” do C/2024 S1, chamado de “cometa do diabo” (12P/Pons-Brooks), também cruzou nossos céus com uma tonalidade semelhante.

Como acompanhar este espetáculo celeste

Se você quer observar este show cósmico, a melhor chance será entre 24 e 28 de outubro, quando o C/2024 S1 estará em seu ponto máximo de brilho. Segundo estimativas, ele poderá ser até mais luminoso que Vênus, o que o colocaria entre os objetos mais visíveis do céu noturno. Mas há um porém: ele será melhor observado a partir do Hemisfério Sul, pouco antes do amanhecer. No Hemisfério Norte, a janela de visibilidade será mais curta, entre 29 e 31 de outubro, e com um brilho menor.

Para aumentar suas chances de observação, vale utilizar binóculos de boa qualidade ou um pequeno telescópio. Esses equipamentos podem revelar detalhes adicionais da cauda e da coma do cometa, transformando a experiência de olhar para o céu em uma verdadeira jornada ao coração de um visitante estelar.

Além disso, sites especializados, como o TheSkyLive.com, oferecem mapas interativos que permitem acompanhar a trajetória do cometa em tempo real, garantindo que ninguém perca essa rara oportunidade de testemunhar um evento astronômico tão especial.

Uma jornada além dos cometas

A presença de cometas nos céus é mais do que um espetáculo visual; é uma janela para entender as origens do nosso sistema solar. Os cometas são considerados “fósseis” do espaço, contendo materiais que datam dos primórdios da formação do sistema solar, há cerca de 4,6 bilhões de anos. Muitos deles se originam da Nuvem de Oort, uma região distante onde corpos gelados residem em silêncio, esperando uma chance de serem lançados em direção ao Sol.

Estudar esses viajantes gelados ajuda os cientistas a compreender como a Terra e outros planetas foram formados, e até a origem da água que hoje cobre a maior parte do nosso planeta. A química do dicarbono, por exemplo, é uma das muitas pistas que os astrônomos decifram para entender melhor a composição desses antigos mensageiros cósmicos.

Para os curiosos e apaixonados pelo céu, o final de outubro promete ser um convite para olhar além do nosso mundo, para um lugar onde cometas riscam o firmamento e nos lembram que somos apenas um pequeno ponto em um vasto oceano cósmico. E, enquanto esperamos pela grande aproximação do C/2024 S1, resta-nos contemplar a beleza e a fragilidade desses viajantes que cruzam o universo, deixando um rastro luminoso de poeira e história. [Space]

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