Um homem que morreu em 315 aC no sul da África é o parente mais próximo conhecido de Eva, a ancestral em comum de toda humanidade.
Calma: não estamos falando da Eva bíblica, e sim da Eva mitocondrial, da qual todos os humanos modernos são descendentes.
Somos todos de Eva
Se você rastrear o DNA na mitocôndria herdada da mãe que cada um de nós tem dentro de nossas células, todos os seres humanos têm um ancestral comum teórico. Esta mulher, conhecida como “Eva mitocondrial”, viveu entre 100.000 e 200.000 anos atrás, na África Austral.
Ela não foi o primeiro ser humano, mas todas as outras linhagens femininas humanas que existiram eventualmente morreram (não tiveram descendentes do sexo feminino, de forma que não conseguiram passar em seu DNA mitocondrial) e, como resultado, todos os seres humanos de hoje podem traçar seu DNA mitocondrial de volta para ela.
Desde a época de Eva, diferentes populações de seres humanos se separaram geneticamente, formando os grupos étnicos distintos que vemos hoje.
O mais antigo descendente de Eva
Agora, um esqueleto de cerca de 315 aC, pouco depois da morte de Alexandre, o Grande, foi identificado como um membro de um ramo até então desconhecido na árvore genealógica humana.
O homem tinha 50 anos quando morreu, e é o primeiro ser humano antigo da África subsaariana – o berço da humanidade – a ter seu DNA sequenciado.
Ele foi encontrado na baía de Santa Helena, na África do Sul, em 2010 pelo arqueólogo Andrew Smith, da Universidade da Cidade do Cabo, e examinado pelo antropólogo Alan Morris da mesma universidade.
Morris descobriu que o homem era um pescador marinho, e tinha cerca de 1,5 metros de altura. Um crescimento ósseo em seu canal auditivo – conhecido como “ouvido de surfista” – revelou que ele passava muito de seu tempo nas águas frias do Oceano Atlântico Sul.
Segundo Vanessa Hayes, do Instituto Garvan, em Sydney, na Austrália, que liderou o novo estudo, os ancestrais desse homem divergiram de outros seres humanos cerca de 150 mil anos atrás.
Ao examinar as semelhanças e diferenças entre o genoma mitocondrial do homem e dos africanos que vivem na região até hoje, Hayes confirmou que a separação do grupo desse homem dos grupos descendentes de Eva ocorreu mais cedo do que os dois mais antigos grupos previamente conhecidos, que foram encontrados entre os membros vivos do povo africano conhecido como Khoisan, tornando-o o mais antigo parente de Eva a se tornar um grupo distinto.
A importância da descoberta
Como o DNA mitocondrial é herdado apenas da mãe, os geneticistas o usam para rastrear o quanto ele mudou ao longo dos anos e identificar ramos da evolução humana e nossa expansão em todo o mundo.
Mesmo que o espécime recém-descoberto tenha apenas 2.330 anos de idade, outras linhagens humanas que viveram na mesma região naquele momento já tinham divergido muito mais da Eva mitocondrial.
Genomas de restos mortais na Europa – ainda que cronologicamente muito mais velhos – foram alterados por vários eventos de seleção grandes, o que significa que a evolução transformou bastante sua genética e criou novas linhagens, enquanto o grupo desse homem permaneceu mais parecido com o grupo que o originou – o de Eva.
De acordo com a nova pesquisa, o genoma mitocondrial desse homem, especialmente se encontrarmos mais indivíduos como ele, vai ajudar os cientistas a desenvolver um mapa de como os primeiros seres humanos modernos viveram e saíram da África.
“Sequenciar seu genoma nuclear – a informação genética herdada de ambos os pais – e de outros espécimes antigos poderia dar um quadro mais complexo da forma como os grupos se misturaram uns com os outros”, diz Wolfgang Haak, paleobióloga da Universidade de Adelaide, na Austrália, que também fez parte do estudo. [NewScientist]