O documentarista canadense Rob Spence sempre amou ficção científica. Tanto que quando ele perdeu seu olho, há seis anos, se inspirou em alguns de seus heróis.
Segundo ele, há tantos personagens da cultura e da ficção científica que tem um olho de câmera, que praticamente qualquer um que perde um olho faz pelo menos uma piada sobre ter um olho-câmera.
O cineasta não só disse, como fez. Com a ajuda de um ex-funcionário de uma empresa de satélite, ele desenvolveu uma câmera que se encaixa em sua órbita ocular. E o “eyeborg”, como ele chama a si mesmo, nasceu.
O dano em seu olho direito veio de um acidente quando ele tinha apenas nove anos de idade. Ele estava com o avô na Irlanda do Norte quando decidiram que seria uma boa ideia pegar uma espingarda calibre 12 e atirar em alguns bichinhos por aí.
O cineasta não segurou a arma de forma adequada, o que causou vários traumas em seu olho. A deterioração foi gradual; com o passar dos anos, ele perdeu toda sua visão. Os cirurgiões recomendaram a remoção do olho danificado para evitar qualquer deterioração no outro saudável.
Acontece que Spence não sentiu nenhuma grande perda de capacidade, talvez por ter levado tanto tempo para perder a visão totalmente. De acordo com ele, a sua busca por um olho-câmera não foi motivada por qualquer esperança de poder voltar a enxergar bem.
A motivação para colocar uma câmera em seu corpo foi uma combinação de ser um adulto brincalhão, que quer ser como Star Trek ou o Homem Biônico, e uma oportunidade de fazer documentários mais interessantes, que têm literalmente um ponto de vista diferente.
O olho já está na sua terceira encarnação e transmite imagens de vídeo ao vivo para um monitor sem fio.
A esta altura você já está se perguntando como funciona a câmera. Ela está anexada em uma bola de coral e um dispositivo de engate, que se encaixam no lugar de seu olho e que foram feitas com a finalidade de um olho estético. Isso significa que a câmera se move e que Spence pode direcioná-la para o alvo.
E o dispositivo já se tornou parte fundamental em seus documentários. Quando ele filma alguém, as pessoas olham diretamente em seus olhos, não através de uma câmera. É muito mais semelhante com a maneira que vemos o mundo na realidade.
O último filme de Spence é um documentário de 12 minutos atrelado ao lançamento de um jogo de vídeo que apresenta um homem biônico com seu próprio olho-câmera.
Para o cineasta, foi uma oportunidade de explorar algumas das inovações biônicas que estão acontecendo em todo o mundo e conhecer algumas pessoas já testaram essas novidades.
Um dos entrevistados foi um homem finlandês, portador de uma cegueira hereditária, que vem testando um implante ocular que permite que ele enxergue grandes formas e luzes.
Spence acredita que o futuro da visão biônica é a alta definição, assim como a televisão, que surgiu como uma caixa de imagens borradas. [BBC]