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Cirurgia de Sci Fi é ultrajante?

Na Universidade de Washington em Seattle (EUA), há um médico com 69 anos que acredita que em 20 ou 30 anos teremos condições de escolher exatamente o que faremos com cada batimento cardíaco nosso, e que poderemos controlar com a mente um membro artificial, ou mesmo um carro.

Imagine que se um soldado for ferido em uma batalha, poderemos colocá-lo em animação suspensa e levar para um hospital onde será operado e depois reanimado. Ou então que será operado por um robô controlado a centenas, milhares de quilômetros de distância por um médico.

Este é o Dr. Richard Satava. E ele não quer apenas ver estas novidades na televisão, ele quer ser o médico a fazer a cirurgia, a controlar o membro mecânico, a reanimar o paciente, e para isto, se houver uma pílula que prolongue sua vida até lá, ele a tomará.

Esses cenários são chamados de “cirurgia ultrajante” pelo Dr. Satava. Tendo passado a infância no meio de livros de ficção científica de H G Wells e Edgar Rice Burroughs, quando chegou a idade adulta, ele decidiu fazer com que as técnicas que só existiam na fantasia se tornassem realidade. Como médico na operação Tempestade no Deserto (Afeganistão, 1990), ele sempre se perguntava o que poderia fazer pelos soldados, e como médico da DARPA (Agência de Pesquisa Avançada de Defesa dos EUA, na sigla em inglês), ele criou o Trauma Pod, uma sala de operações móvel, operada remotamente.

Tendo recebido duas vezes o Prêmio Smithsonian de Saúde, as ideias do Dr. Satava são levadas bem a sério, embora pareçam loucura à primeira vista. É dele o projeto do primeiro robô cirurgião. Na Universidade, onde ele é conselheiro do Comando de Pesquisa Médica do Exército, ele e seus colegas pesquisam como nos tornar mais fortes, sobreviver à doenças que matam, e viver mais tempo.

Em um dos laboratórios, um dos colegas do Dr. Satava espeta eletrodos finíssimos em uma mariposa, tentando entender como ela controla os músculos que a fazem voar. Em outra sala, a pesquisa é em “pontos quânticos”, pedaços microscópicos de silicone sensível à luz que seriam injetados diretamente no cérebro para acrescentar informações, e permitir lidar de forma não invasiva com doenças como Alzheimer, epilepsia e cegueira.


“Estamos limitados apenas pela nossa imaginação”, diz o Dr. Satava.

Animação suspensa

Dois anos atrás, ele deu uma palestra demonstrando como o sulfeto de hidrogênio (H2S) causava hibernação em ratos. Trabalhando com um produto que era usado na Primeira Guerra, mostrou que o H2S regula o consumo de oxigênio das células.

Ao baixar a taxa de consumo de oxigênio, o Dr. Satava consegue colocar pequenos animais em um tipo de animação suspensa ou hibernação forçada. Depois de seis horas, um rato que não apresenta batimentos cardíacos é “ressuscitado”.

Em um campo de batalha, um soldado que tivesse sido ferido seriamente poderia ser colocado nesta animação suspensa; seu sangramento pararia, ele poderia ser transportado para um hospital, operado, e então “ressuscitado”.

Além deste uso médico, a animação suspensa poderia ser usada para prolongar a vida de alguém. Como “entrar em hibernação”. Em vez de ficar 8 horas dormindo, hibernar até que… que a pessoa queira acordar.

Controle remoto pelo cérebro

Um outro cenário que o Dr. Satava imagina é operar um soldado do outro lado do planeta. Um exame mostra que o soldado precisa de um transplante. O Dr. instrui um robô a coletar células-tronco e imprimir um órgão, depois de colocar o soldado em animação suspensa.

Parece ficção maluca, mas a impressora de órgãos já existe. E o robô cirurgião também. Hospitais nos Estados Unidos já usam um robõ chamado DaVinci para cirurgias de próstata, reparação de válvulas cardíacas e procedimentos ginecológicos.

Há ainda uma nova máquina sendo pesquisada, com o nome de Raven. Um dos “defeitos” do DaVinci é que exige que o médico esteja em uma sala do lado da sala de cirurgia, mas o Raven permitiria cirurgias remotas.

E mais, o cirurgião pode programar algumas áreas como “voo proibido”: o escalpelo nunca pode chegar lá, por mais que tente. É como um campo de força protegendo regiões que o cirurgião pré-determinou como “fora dos limites”.

Estendendo a vida

O Dr. Satava também está interessado em outras formas de estender a vida artificialmente. Uma das drogas pesquisadas atualmente, o Resveratrol, aumentou a vida de cobaias de uma e meia a duas vezes a duração normal. Ratos obesos que tomaram a droga viveram 44% mais do que os ratos que não tomaram.

Outra maneira de prolongar a vida é parar a apoptose celular, ou morte celular. Se a enzima for impedida de trabalhar, o telômero, um corpúsculo no DNA, permanece inteiro, e a célula continua a se reproduzir, vivendo por mais tempo.

E tudo isto não está no futuro distante. De fato, são projetos e pesquisas que estão acontecendo agora, e que provavelmente serão realidade nas próximas décadas. E que talvez não sejam, assim, tão ultrajantes.
[Telegraph]

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