Arqueólogos afirmam ter descoberto um território que, no passado, foi um local fértil onde habitaram alguns dos primeiros seres humanos fora da África, cerca de 75.000 a 100.000 anos atrás.
A planície hoje fica sob o Golfo Pérsico (foto). No seu auge, o território teria sido do tamanho da Grã-Bretanha, para mais tarde encolher conforme a água começou a inundar a área. Os pesquisadores acreditam que, cerca de 8.000 anos atrás, a terra foi engolida pelo Oceano Índico.
De acordo com registros históricos do nível do mar, o Golfo teria sido uma rasa bacia terrestre exposta cerca de 75.000 anos até 8.000 anos atrás, formando a ponta do sul do Crescente Fértil.
Segundo os pesquisadores, isso teria sido um refúgio ideal para os desertos em torno da região, com água fresca fornecida pelos rios Tigre, Eufrates, Karun e Wadi Baton. Durante a última era glacial, quando as condições estavam mais secas, a bacia teria atingido a sua maior largura.
Os resultados do estudo provocaram discussão sobre quem exatamente eram os humanos que ocuparam a bacia do Golfo. Especialistas sugerem que, dada a presença de comunidades de Neandertal nos trechos superiores dos rios Tigre e Eufrates, bem como na região do Mediterrâneo oriental, esta pode muito bem ter sido a zona de contato entre os modernos e os neandertais. De fato, evidências recentes a partir do sequenciamento do genoma neandertal sugerem cruzamentos.
O estudo tem amplas implicações para os aspectos da história humana. Por exemplo, os cientistas debatem há tempo sobre a época em que os primeiros seres humanos modernos saíram da África, sugerindo datas desde 125.000 anos atrás até tão recente quanto 60.000 anos atrás.
Essa data mais recente é o paradigma atualmente aceito. A nova descoberta reescreveria completamente a compreensão da migração da África. Porém, especialistas alertam que, apesar de ser uma excelente teoria, está longe de ser comprovada.
Porém, nos últimos anos, os arqueólogos já descobriram evidências de uma onda de assentamentos humanos ao longo da costa do Golfo datando de cerca de 7.500 anos atrás.
Onde antes havia um punhado de acampamentos de caça dispersos, de repente, mais de 60 novos sítios arqueológicos apareceram. Esses assentamentos possuem casas de pedra permanentes, bem construídas, redes de comércio de longa distância, cerâmica elaboradamente decorada, animais domesticados, e até evidências de um dos navios mais antigos do mundo.
Ao invés de rápida evolução dos assentamentos, os pesquisadores acreditam que existiam populações precursoras, mas que permaneceram escondidas debaixo do Golfo. Eles dizem que talvez não seja coincidência que a fundação de tais comunidades desenvolvidas ao longo da costa corresponda com a inundação da bacia do Golfo Pérsico por volta de 8.000 anos atrás.
A prova mais definitiva desses campos humanos no Golfo provém de um novo sítio arqueológico chamado Jebel Faya, dentro da bacia do Golfo, que foi descoberto há quatro anos.
Lá, pesquisadores encontraram três diferentes assentamentos paleolíticos que ocorreram entre 125.000 e 25.000 anos atrás. Esse e outros sítios arqueológicos indicam que grupos primitivos viveram em torno da bacia do Golfo durante o Pleistoceno Superior.
Para provar a ocupação humana deste tipo durante o Paleolítico, ou no início da Idade da Pedra, os cientistas teriam de encontrar qualquer evidência de instrumentos de pedra espalhados sob o Golfo. Quanto ao Neolítico, seria importante encontrar alguma evidência de estruturas humanas construídas.
Para realizar tudo isso, seria preciso encontrar um local submerso, e escavar debaixo d’água. Isso provavelmente só vai acontecer depois de anos de pesquisa em áreas cuidadosamente selecionadas.
Segundo os pesquisadores, há uma pitada de mitologia na pesquisa, também. Quase todas as civilizações que viveram no sul da Mesopotâmia citaram de alguma forma o mito do “dilúvio”. Os nomes variam, mas o conteúdo e a estrutura são consistentes, desde 2.500 a.C. até o relato do Gênesis, para a versão do Alcorão. Talvez a prova esteja abaixo do Golfo. [LiveScience]