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Code Club ensina as crianças uma habilidade para a vida toda

A tecnologia transformou a educação, mas, ao mesmo tempo em que os alunos aprendem a usá-la, raramente sabem como funciona. Agora, uma percepção crescente entre os educadores de que essa lacuna precisa ser preenchida está levando a uma nova revolução.

A partir de setembro, a Inglaterra será o primeiro país do mundo a tornar programação de computadores uma disciplina escolar obrigatória em todos os níveis. De acordo com as diretrizes curriculares, a partir do momento em que começam a escola, aos cinco anos de idade, até quando completam o ensino público aos 16, as crianças aprenderão a codificar e compreender algoritmos simples, e usar linguagens de programação para resolver problemas computacionais.

Já nos Estados Unidos, de acordo com o Code.org, apenas uma em cada 10 escolas americanas ensina programação às crianças, apesar das previsões de que o emprego em informática vai aumentar em 22% até 2020, com a demanda mais forte sendo para desenvolvedores de software.

Apesar de especialistas recomendarem que a informática esteja no currículo das escolas no mundo todo, a maior parte do trabalho está sendo feito fora das instituições de ensino públicas.

Clare Sutcliffe e Linda Sandvik, criadoras do Code Club, tentam ensinar habilidades de programação a crianças desde o ano passado. A organização funciona como uma rede de atividades extracurriculares gratuitas completamente gerenciada por voluntários. É destinada a crianças com idade entre 9 e 11 anos, e já existem mais de 1.500 escolas no mundo todo, inclusive no Brasil.

Por aqui, são 26 Code Club (em português: Clube do Código ou Clube de Programação) espalhados pelo Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte e Minas Gerais. Qualquer um pode usar o material disponibilizado pela organização, que é gratuito, assim como qualquer um pode criar um clube, em qualquer ambiente que tiver disponível, desde que ele seja também gratuito.

De acordo com os voluntários, o ensino de programação é muito mais do que ajudar as crianças a entender a tecnologia que estão usando. Sutcliffe acredita que isso lhes dá habilidades para a vida. “Em um nível básico, melhora habilidades de pensamento e resolução de problemas. Competências digitais também melhoram suas chances de ser contratado no futuro”, diz ela.

Além disso, o contato com o assunto tem o potencial de trazer uma mudança fundamental na forma como vemos a tecnologia, transformando as crianças de consumidores passivos em produtores ativos. “Há uma enorme diferença entre consumo de conteúdo e ser capaz de criá-lo”, acrescenta Sutcliffe. “É importante ter agência sobre as ferramentas que você está usando”.

Laura Kirsop deixou o emprego como professora para se juntar ao Code Club. Ela viu em primeira mão o impacto que as habilidades de programação tem, inclusive em fazer as crianças resolverem as coisas por si mesmos. “Nas primeiras sessões, as crianças colocam as mãos para cima e dizem: ‘Não está funcionando!’. Leva um tempo para elas perceberem que, se não está funcionando, é porque elas fizeram algo errado”, explica.

Laura também notou a capacidade da programação de inspirar. “Na primeira sessão do Code Club, as crianças fazem seu próprio jogo de computador e isso lhes dá uma sensação incrível”, conta.

Mas nem tudo dão rosas. Há também desafios em se ensinar programação nas escolas. Para que isso seja possível, é preciso um esforço enorme em termos de formação de professores. Kirsop atesta para a falta de tempo gasto em habilidades de programação em seu próprio curso de formação. “Há um longo caminho a percorrer antes dos professores se sentirem confiantes o suficiente para ensinar essas habilidades”, argumenta.

Mark Clarkson, diretor de computação na Escola Egglescliffe, em Stockton, no nordeste da Inglaterra, concorda. Membro do conselho que trabalhou com o governo para a elaboração do novo currículo inglês, ele é apaixonado por programação, mas está ciente dos obstáculos ainda a serem superados.

Alterações aos cursos de formação de professores e desenvolvimento profissional contínuo são cruciais para garantir que o currículo seja entregue de forma eficaz. Mas ele vê os benefícios potenciais como enormes. A oportunidade está aí para equipar uma geração com as habilidades para não apenas usar a tecnologia, mas fazê-la trabalhar a nosso favor. “A ideia é que todos terão uma compreensão básica que irão levar pelo resto de suas vidas”, diz Clarkson. Se funcionar, é um exemplo que o resto do mundo pode em breve ter que seguir.

A história da informática na educação brasileira já tem mais de 20 anos e foi baseada em políticas utilizadas nos EUA e na França. No entanto, apesar do Programa Brasileiro de Informática em Educação ser bastante ambicioso, tendo o computador como recurso para auxiliar o processo de mudança pedagógica, críticos dizem que ainda não impregnou as ideias dos educadores e, por isso, não está consolidado no nosso sistema educacional.

Enquanto o currículo não muda por aqui, os pequenos programadores podem se apoiar no material do Code Club para obter conhecimento. Quem quiser saber mais sobre a missão da organização, apoiá-la ou até mesmo encontrar um clube, pode acessar seu site ou curtir sua página no Facebook. [Forbes, geogebra]

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