Para silenciar dissidentes, em janeiro de 2011, o governo egípcio fez um movimento sem nenhum precedente: desativou a internet em todo o seu território. Como eles fizeram isso? E a mesma coisa poderia acontecer em outros países, como os Estados Unidos?
Segundo o cientista da computação David Clark, cuja pesquisa se concentra na arquitetura e desenvolvimento da internet, a capacidade de domínio de um governo sob a rede depende de seu controle dos chamados provedores de acesso à internet (em inglês Internet Service Providers, ISPs) – empresas privadas que concedem acesso à rede para seus clientes.
Há muitas maneiras de desativar os ISPs tecnicamente, quando o governa ordena que o seja feito. Uma delas é desligar os dispositivos (o que pode ser comparado a “tirar da tomada”) ou alterar as tabelas de roteamento. Nesse último caso, seria como matar digitalmente um serviço específico, permitindo que outros à escolha continuem funcionando.
Portanto, o que acontece em qualquer país depende do controle que o estado tem sob seus provedores de acesso. No caso do Egito, o principal prestador de serviços de telecomunicações, o Telecom Egypt, é estatal. Em outros lugares, como a China, os ISPs são regulados de forma ainda mais pesada e, no passado, já foram desativados em várias regiões.
Porém, é errado pensar que não há formas de se burlar o bloqueio. No Egito, as pessoas puderam utilizar smatphones para se comunicar com a rede global, as empresas puderam acessar à intranet de forma privada, e prestadores de acesso à internet com suas próprias conexões internacionais poderiam ignorar os circuitos da Telecom Egypt e continuar oferecendo suporte aos seus clientes.
Desativar a internet é uma questão de regulamentação. Segundo especialistas, no entanto, mesmo em tempos de crise não é possível que isso aconteça em países como os Estados Unidos – o presidente ou qualquer outra pessoa não tem acesso a um “interruptor” que desligue fisicamente a internet, e também não tem controle sobre os ISPs.
Isso pode mudar, no entanto, caso um projeto de proteção ao ciberespaço, introduzido no Senado norte-americano no ano passado, for aprovado. O projeto daria poderes efetivos ao governo para desligar fisicamente a internet, em caso de emergências no ciberespaço. Ao invés do bloqueio da liberdade de expressão, o plano pretende proteger a infra-estrutura dos ciberterroristas, mas ainda assim causa preocupação em muitos ativistas.
Para os especialistas, a cada dia a internet cresce de forma mais complicada, o que torna mais difícil seu desligamento completo. A rede está ricamente interconectada, e seria preciso trabalhar muito para encontrar um pequeno número de lugares onde seria possível prejudicar a conectividade. Além disso, a habilidade para controlar ou desativar o acesso à internet é uma guerra em curso. Novos tipos de ataque estão surgindo constantemente, assim como novas defesas. [Life’s Little Mysteries]