A situação é dramática, mas ao mesmo tempo pitoresca. Se você acompanhou as principais notícias do mundo em agosto, deve estar por dentro do desastre que fechou o acesso terrestre a uma mina no Chile, soterrando 33 mineiros que, contudo, estão vivos e perfeitamente bem, pelo menos por enquanto.
O que aconteceu, basicamente, foi o seguinte: um acidente fez com que ruísse a principal entrada dos trabalhadores à mina, localizada a uma profundidade de 700 metros em relação à superfície, de forma que eles estão presos lá dentro, sem ter como sair, mas em um espaço relativamente grande sem riscos de falta de ar. A tecnologia que está sendo idealizada para tirá-los de lá, basicamente, funciona assim: uma broca com capacidade de perfuração de 8 a 10 metros por dia vai cavar um túnel vertical, com 66 cm de diâmetro, pelo qual os mineiros serão içados um a um. O problema? Essa tal escavação deve levar de três a quatro meses.
Perfurações debaixo da terra são um procedimento muito mais complicado do que se pensa. Segundo os cálculos da equipe que opera o resgate, um desvio de 1º na perfuração implica um erro de 40 metros em relação ao local onde a perfuração deve atingir. Assim, todo cuidado é pouco. Para garantir tamanha precisão, eles contam com equipamentos sofisticados, tais como giroscópios e inclinômetros magnéticos.
Um consolo: um túnel em outro ponto da mina, com apenas 8cm de diâmetro, já está pronto. Ele funciona como um duto, e responde a uma pergunta que você deve estar fazendo desde o primeiro parágrafo: é através desta fina faixa de terra que os mineiros estão recebendo água, comida (em forma de sachês de glicose, principalmente) e bilhetes de familiares. Através desta via, também, serão instaladas sondas e micro câmeras de TV para que se possa monitorar diariamente a situação dos trabalhadores presos sob o solo do deserto de Atacama.
O procedimento é um pouco arriscado devido à chance de haver rachaduras e desabamentos durante o processo, mas não representa uma grande ameaça de soterramento aos minieros. Ocorrendo um problema, o máximo que pode acontecer é o túnel ser obstruído e eles terem que cavar outro, começando do zero. No dia em que forem içados de volta à superfície, os trabalhadores terão que levantar o braço para diminuir a largura dos ombros, afinal, o túnel terá menos de um metro de diâmetro.
Há dois fatos que trazem otimismo aos familiares dos operários. O primeiro: a empresa responsável pelo resgate tem experiência na área, já que retiraram nove mineiros de uma gruta na Pensilvânia (EUA), em 2002, com sucesso absoluto. Além disso, como explica um dos coordenadores do resgate, “se existe alguém capaz de sobreviver quatro meses em condições adversas, estes são mineiros”. [Live Science]