Quando algum conhecido, ou nós mesmos descobrimos que temos um tumor cancerígeno, uma das primeiras reações é pensar no porquê e tentar encontrar um culpado. Será que foi algo que fizemos? Alguma coisa que ingerimos? Algo que alguém fez a nós? Mas, geralmente, não há uma causa identificável.
O câncer e a entropia
O câncer é uma doença muito antiga. De fato, até mesmo tumores em ossos de dinossauro já foram encontrados.
No nosso corpo, existem centenas de trilhões de células. A qualquer segundo, vários milhões delas estão se dividindo. Em cada divisão, todo o genoma é copiado para as células-filhas, em um processo que se repete até a nossa morte.
Nessas divisões, erros podem acontecer. A maior parte destes erros são inócuos, ou então matam a célula imediatamente. Outros erros são eliminados pelas proteções genéticas que evoluíram por milhões de anos, e que reconhecem e removem células danificadas. Mas, ainda assim, erros são passados adiante – se não fossem, não haveriam mutações genéticas e, sem elas, a vida não evoluiria.
O câncer ocorre quando algumas destas mutações, na combinação correta, criam uma linhagem de células que começam a expandir e evoluir por conta própria, independente do bem-estar do corpo. Isto dá origem a um tumor, com características necessárias para sobreviver, expandir-se e colonizar o corpo. Ele se torna uma quase-criatura, impulsionada pela ordem darwiniana de se tornar cada vez mais apto a se multiplicar.
O câncer e a vida são, ambos, o resultado de mutações. E a maioria aparece espontaneamente, ao que parece. Aliás, com a notável exceção do câncer de pulmão induzido pelos produtos químicos liberados pelo cigarro, o uso de produtos químicos não parece aumentar em muito a taxa de incidência de câncer.
Isto quer dizer que, por um lado, as causas do câncer sempre estiveram conosco, e, na maior parte, a doença não é culpa nossa. Por outro lado, nossas atividades também aumentaram a probabilidade do desenvolvimento da condição.
E, ainda assim, você pode fumar a vida inteira e ainda assim não desenvolver câncer de pulmão – são precisas várias mutações para que uma célula se torne o princípio de um tumor maligno. Embora estas mutações possam ser herdadas, a maior parte delas é o resultado de erros aleatórios de cópias. A entropia é o maior fator cancerígeno que existe.
Os criacionistas e a entropia
Curiosamente, os criacionistas abraçam esta hipótese científica. Quer dizer, criacionistas não acreditam que a evolução aconteça, mas acreditam que as mutações genéticas aconteçam. Para eles, as mutações não tomam parte na origem e desenvolvimento das espécies (isso seria objeto do trabalho divino), mas as mutações podem dar câncer. As mutações fariam parte do salário que a humanidade amarga desde que Eva comeu a fruta do conhecimento do bem e do mal, no Jardim do Éden.
Os criacionistas – e fundamentalistas cristãos em geral – escolhem aceitar só a ciência que é consistente com a fé deles. E ao mesmo tempo em que alguns rejeitam a Evolução e a teoria do Big Bang, os mesmos não têm problemas em aceitar a Segunda Lei da Termodinâmica, que afirma que a entropia do universo está em aumento constante. Podem existir alguns bolsões temporários de ordem – vida, civilização – mas, com o passar do tempo, a ordem dá lugar à desordem. [Fire in the Mind 2]