Quem é ou já foi adolescente sabe o que é ficar “encharcado” o suficiente a ponto de se não lembrar de muito, ou mesmo nada, sobre a noite anterior.
Especialmente para os universitários ou durante um feriado prolongado, a bebida acaba sendo uma eficiente maneira de se ter amnésia. Reconstruir o que aconteceu durante uma noite de bebedeira pode se tornar um enredo hilariante, como o do filme “Se beber não case”, ou um projeto de pesquisa interessante.
Apesar de não ser inspirado pelo sucesso de Hollywood, um estudo recente analisou apagões de memória induzidos pelo álcool, na esperança de aprender como as pessoas preenchem “os espaços em branco” mais tarde, e se esta informação é exata.
Os pesquisadores descobriram que as pessoas frequentemente recorrem a fontes não confiáveis para juntar as memórias esquecidas.
O estudo entrevistou 280 estudantes universitários britânicos. Os estudantes responderam se haviam experimentado tanto um apagão parcial – a lembrança de pedaços e peças do que aconteceu depois que começaram a beber -, ou um total – esquecendo tudo o que fizeram ou viram até acordar no dia seguinte.
Entre os estudantes que beberam, 24% admitiram ter um apagão total, enquanto 37% tiveram um parcial. Beber muito em um curto período de tempo geralmente provocou um apagão total.
Os pesquisadores descobriram que aqueles que sofreram apagão total foram um pouco mais propensos a pedir às pessoas que também haviam bebido detalhes do episódio nebuloso, ao invés de perguntar o que houve para pessoas que não estavam bêbadas, mas também tinham testemunhado a noite. Quase 44% disseram ter visto uma fotografia ou um vídeo para lembrar-lhes o que aconteceu.
“Fiquei surpreso com a forma como pessoas se empenhavam para reconstruir as memórias esquecidas, apesar de saber que isso muitas vezes pode levar a considerável embaraço ou pânico”, disse o professor de psicologia Robert Nash.
Segundo Nash, perguntar a outras pessoas que estavam lá muitas vezes é a única maneira de descobrir o que aconteceu. Mas depender de amigos ou conhecidos que estavam provavelmente bêbados também pode tornar as lembranças menos de 100% confiáveis.
Fontes não confiáveis podem levar a erros de memória e às vezes crenças falsas sobre comportamentos durante um período de tempo esquecido. Isso pode ser verdade não só para apagões de embriaguez, mas outras experiências do passado, sejam memórias de infância ou até mesmo casos de condenação injusta.
Curiosamente, cerca de três quartos dos participantes do estudo admitiram que podem ter involuntariamente inventado informações quando um amigo passou mal e esqueceu o que fez, tais como dizer que a pessoa fez sexo com um estranho ou vomitou em alguém.
Quase 17% dos bêbados que apagam totalmente mais tarde descobrem que foram enganados por informações incorretas, muitas vezes vindas de amigos.
Mas ter um “blackout” e ficar ansioso para saber o que aconteceu pode mudar as perspectivas das pessoas sobre se uma determinada fonte pode ser confiável. “Se queremos informações corretas, colocamos nossa fé em fontes que gostaríamos de considerar altamente confiáveis”, explica Nash.
O conselho do psicólogo é: “Quando quiser reconstruir eventos, tome cuidado se a pessoa em que você está colocando sua confiança é uma fonte verdadeiramente confiável, ou se é a única opção”.[MSN]