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Corrente intergaláctica de estrelas 10 vezes mais longa que a Via Láctea é a primeira do seu tipo já avistada

O fluxo estelar intergaláctico (em destaque) foi avistado em um aglomerado de galáxias a 231 milhões de anos-luz da Terra. (Crédito da imagem: Telescópio William Herschel/Román e outros)

Especialistas em astronomia fizeram uma descoberta inesperada: o primeiro caminho cósmico conhecido composto inteiramente por estrelas. Este caminho, com uma extensão quase dez vezes maior que a da Via Láctea, sugere a possibilidade de existirem mais estruturas semelhantes escondidas no vasto universo, conforme indicado por um estudo recente.

Essas correntes estelares são formações longas e estreitas de estrelas que estão gravitacionalmente ligadas. Muitas vezes, essas estrelas são arrancadas de suas galáxias ou aglomerados estelares originais pela influência gravitacional de galáxias vizinhas. Até então, essas correntes haviam sido mapeadas apenas dentro de galáxias, incluindo a nossa própria Via Láctea. No entanto, essa é a primeira vez que tal corrente é identificada no espaço intergaláctico, o espaço que existe entre as galáxias.

Publicado em 30 de novembro na revista Astronomy & Astrophysics, o estudo apresenta a detecção da primeira corrente estelar intergaláctica, que se estende pelo Aglomerado de Coma, também conhecido como Abell 1656. Este aglomerado é composto por mais de mil galáxias menores e está localizado a cerca de 321 milhões de anos-luz da Terra. A estrutura, inédita em sua natureza, foi nomeada pelos pesquisadores como Corrente Gigante de Coma, sendo também a maior corrente estelar já descoberta.

Javier Román, principal cientista do estudo e astrofísico no Instituto de Astrofísica das Ilhas Canárias, mencionou em uma declaração que o encontro com essa imensa corrente foi totalmente acidental. O grupo de pesquisa estava inicialmente analisando halos de estrelas dispersas ao redor do Aglomerado de Coma, com o objetivo de medir a matéria escura que circunda o grupo de galáxias, quando se depararam com essa trilha estelar.

R. Michael Rich, um astrônomo colaborador da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, foi quem fez as primeiras observações da Corrente Gigante de Coma usando seu telescópio pessoal. Posteriormente, a equipe recorreu ao Telescópio William Herschel, mais potente e localizado em La Palma, nas Ilhas Canárias, Espanha, para um estudo detalhado da corrente.

O achado dessa corrente estelar dentro do aglomerado de galáxias surpreendeu os pesquisadores. Reynier Peletier, coautor do estudo e astrônomo da Universidade de Groningen, na Holanda, descreveu a estrutura como delicada, existindo em um ambiente desafiador de galáxias que se atraem e repelem mutuamente. Ele expressou surpresa pelo fato de tal formação não ter sido despedaçada pelas galáxias maiores.

The Giant Coma Stream is closely surrounded by dozens of small galaxies. (Image credit: William Herschel Telescope/Román et al.)

Os cientistas estão intrigados pela resistência e expansão da corrente. Eles especulam que a matéria escura, a substância que originalmente estavam investigando e que constitui a maior parte da matéria do universo, poderia ser responsável. Essa matéria enigmática, invisível, mas detectável por sua influência gravitacional sobre a matéria visível, pode ter desempenhado um papel na formação da corrente.

Estudos futuros, utilizando telescópios mais avançados, estão planejados para explorar mais profundamente essa corrente e suas origens. A equipe também pretende examinar as estrelas individuais dentro da corrente para determinar se possuem características únicas.

Esta descoberta abre caminho para a identificação de mais correntes estelares fora das galáxias. A equipe suspeita que muitas mais existam e espera que seu trabalho, combinado com o avanço tecnológico dos telescópios, auxilie outros astrônomos na descoberta de mais dessas formações celestes.

A pesquisa acerca da Corrente Gigante de Coma representa um marco na astronomia, pois revela aspectos até então desconhecidos sobre a estrutura do universo. As correntes estelares, sendo elementos fundamentais na compreensão das interações gravitacionais em larga escala, oferecem insights valiosos sobre como as galáxias interagem e evoluem ao longo do tempo.

Além disso, o estudo dessas correntes fornece informações cruciais sobre a distribuição e a quantidade de matéria escura, um dos maiores mistérios da física moderna. Ao mapear e estudar essas estruturas gigantescas, os cientistas podem começar a entender melhor como a matéria escura influencia a formação e a evolução do cosmos.

O Aglomerado de Coma, já conhecido por sua complexidade e riqueza em termos de estruturas galácticas, agora se destaca ainda mais no campo da astronomia com a descoberta da Corrente Gigante de Coma. Este achado não apenas desafia as noções prévias sobre a distribuição de estrelas no espaço intergaláctico, mas também estimula a comunidade científica a procurar por mais dessas estruturas enigmáticas.

A interseção entre a observação astronômica, a teoria astrofísica e a tecnologia de ponta torna este momento particularmente empolgante para a pesquisa espacial. À medida que os telescópios se tornam mais potentes e as técnicas de análise de dados mais sofisticadas, espera-se que mais descobertas surpreendentes sejam feitas, expandindo nosso entendimento do universo e de seu funcionamento.

Em resumo, a descoberta da Corrente Gigante de Coma não é apenas um marco importante para a ciência moderna, mas também um convite à exploração contínua e ao questionamento do vasto e misterioso cosmos que nos rodeia. [Space]

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