Em 14 de janeiro de 2005, uma pequena nave espacial em forma de disco surgiu da turbulência ardente de uma atmosfera a um bilhão de quilômetros da Terra. Um pára-quedas se abriu e a nave começou a descer lentamente através dos ventos. Com temperaturas oscilando em menos 180° C, finalmente pisou na superfície fria de um mundo distante.
A nave espacial da história é a sonda européia Huygens, e o mundo distante, a superfície da maior lua de Saturno, Titã.
O pouso foi o culminar de cerca de 20 anos de trabalhos de cientistas e engenheiros – um verdadeiro desafio. Um novo documentário, “Destino Titã” (nome original: Destination Titan), mostra as atribulações de uma pequena equipe de cientistas britânicos que tinham a difícil tarefa de projetar o experimento que faria as primeiras medidas na superfície de Titã.
Para o professor John Zarnecki, a viagem à Titã foi uma odisséia pessoal. Desde menino, quando Yuri Gagarin, um famoso cosmonauta, visitou Londres em 1961, John desejava uma carreira em ciência espacial.
Depois de assumir um posto na Universidade de Kent, surgiu a oportunidade do professor fazer parte da missão conjunta Cassini-Huygens da NASA. A Cassini era para ser a nave principal que iria entrar na órbita de Saturno e suas luas, enquanto Huygens, uma embarcação de desembarque, pegaria carona a bordo da Cassini até o momento em que tivesse que descer em Titã.
A equipe passou os próximos seis anos tentando planejar como trabalhar em uma superfície cuja composição na época era completamente desconhecida. O dinheiro era pouco. A equipe pediu a ajuda da Polônia, e utilizou alunos para trabalhar em diferentes aspectos do projeto.
Outro expert da equipe foi Ralph Lorenz, que tinha a tarefa de projetar o penetrômetro de Huygens, a parte da espaçonave que faz o primeiro contato com a superfície de Titã. Era um componente-chave do projeto, mas como o cientista brincou, basicamente todo mundo estava improvisando, porque ninguém tinha construído algo que havia pousado em Titã antes.
Apesar de alguns contratempos graves, a experiência foi finalmente entregue, e em 15 de outubro de 1997 a Cassini-Huygens foi lançada. Depois de uma viagem de sete anos, a sonda Huygens finalmente chegou à superfície da lua no dia de Natal de 2004.
Demorou um pouco, mas logo dados começaram a surgir da sonda. O mundo finalmente teve uma vista deslumbrante da superfície de Titã. Especialmente preocupantes eram as imagens de um campo de gelo, tiradas após o desembarque pela nave.
De volta ao laboratório, a equipe analisou os dados que chegavam de seu instrumento. Ralph Lorenz lembra que o registro do penetrômetro indicou uma espécie de crosta, que a sonda empurrou para a superfície sem muita resistência.
John Zarnecki fez uma observação sobre a superfície de Titã, dizendo que ela parecia um “Crème Brûlée” (francês para “creme queimado”, uma sobremesa), uma analogia cientificamente imprecisa, mas maravilhosamente descritiva. Nos seis anos desde que a Huygens pousou em Titã, a nave-mãe Cassini continua a desvendar os segredos deste mundo intrigante, revelando um lugar muito semelhante ao que os cientistas pensam que a Terra primitiva poderia ter sido.
Imagens de radar recentes provaram que lagos e mares de metano líquido existem na superfície da lua, e que tempestades de chuva super-frias sazonais desta substância estão ocorrendo sobre as regiões polares de Titã.
Não devem haver futuras missões à lua de Saturno tão cedo, segundo os cientistas. Por enquanto, porém, a sonda Huygens continua a ser o posto mais distante da humanidade no sistema solar. [BBC]