Cientistas descobriram e registraram na região da Patagônia, na Argentina, uma nova espécie de dinossauro gigante com o esqueleto mais completo já encontrado do seu tipo. Com 26 metros de comprimento e pesando cerca de 60 toneladas em vida, o Dreadnoughtus Schrani é o maior animal terrestre já registrado, o qual a massa corporal pode ser calculada com precisão.
O esqueleto está excepcionalmente completo, com mais de 70% dos ossos, com excepção da cabeça. Um outro indivíduo da mesma espécie, menor e com menos ossos preservados, também foi encontrado no local. No passado, só foram encontrado restos relativamente fragmentados de dinossauros gigantes. Por isso, o Dreadnoughtus oferece uma janela sem precedentes a respeito da anatomia e biomecânica dos maiores animais que já andaram sobre a Terra.
“O Dreadnoughtus Schrani era incrivelmente enorme”, exalta Kenneth Lacovara, professor associado na Faculdade de Artes e Ciências da Universidade de Drexel (EUA), que descobriu o esqueleto no sul da Patagônia e liderou a escavação e a análise. “Ele pesava tanto quanto uma dúzia de elefantes africanos, ou mais de sete T. Rex. O mais chocante é que a evidência esquelética mostra que, quando este espécime de 60 toneladas morreu, ele ainda não estava maduro. Ele é de longe o melhor exemplo que temos de qualquer das criaturas mais gigantes que já andaram no planeta”.
O novo dinossauro pertence a um grupo de grandes comedores de plantas conhecido como titanossauros. O fóssil foi desenterrado durante mais de quatro sessões de campo de 2005 a 2009. Mais de 100 partes do esqueleto do Dreadnoughtus foram encontradas. O método para calcular a massa de quadrúpedes é baseado em medições realizadas a partir do fêmur (osso da coxa) e do úmero (osso do braço). Como o esqueleto encontrado inclui ambos os ossos, o seu peso pode ser estimado com confiança. Antes da descoberta desse gigante de 60 toneladas, outro gigante da Patagônia, o Elaltitan, detinha o título de dinossauro com o maior peso calculável, com 47 toneladas.
No geral, os ossos encontrados do Dreadnoughtus Schrani representam cerca de 45,3% do total do esqueleto do dinossauro, com até 70,4% dos tipos de ossos em seu corpo representados, exceto os do crânio. Um esqueleto muito mais completo do que todos os titanosauros gigantes descobertos anteriormente.
O Argentinosauro, por exemplo, era de uma massa comparável e talvez maior do que a do Dreadnoughtus, mas são conhecidas apenas uma meia dúzia de vértebras, uma tíbia e algumas outras peças fragmentadas; já que o modelo carece de ossos dos membros superiores, não existe um método confiável de calcular sua massa.
Para visualizar melhor a estrutura do esqueleto do Dreadnoughtus, a equipe de Lacovara digitalizou todos os ossos encontrados. Eles fizeram uma “montagem virtual” do esqueleto que está agora disponível publicamente para download como um suplemento online da publicação da descoberta.
“Isto tem a vantagem de não demandar espaço físico”, aponta Lacovara. “Estas imagens podem ser usadas em todo o mundo por outros cientistas e museus. A fidelidade é perfeita. A qualidade não decai ao longo do tempo como acontece com os ossos em uma coleção”.
As varreduras a laser 3D do Dreadnoughtus mostram as profundas e requintadamente preservadas cicatrizes de fixação muscular, que podem fornecer muitas informações sobre a função e a força dos músculos que o animal tinha e onde eles eram ligados ao esqueleto – a informação que está faltando em muitos saurópodes.
Um dinossauro que não temia nada
“Com um corpo do tamanho de uma casa, o peso de uma manada de elefantes e uma cauda como arma, o Dreadnoughtus não temia nada”, supõe Lacovara. Por isso mesmo, o cientista escolheu o nome “Dreadnoughtus”, que significa “não teme nada”. O nome da espécie, “Schrani”, foi escolhido em homenagem ao empresário americano Adam Schran, que apoiou a pesquisa.
Mas se eles não temiam predadores, como estes indivíduos morreram antes de estarem maduros?
A integralidade e a natureza articulada dos dois esqueletos são evidência de que eles foram enterrados em sedimentos rapidamente, antes que seus corpos ficassem totalmente decompostos. Com base nos depósitos sedimentares no local, Lacovara afirma que “estes dois animais foram enterrados depois que um rio transbordou e rompeu suas barragens naturais, transformando a terra em algo parecido com areia movediça. O enterro rápido e profundo dos dois espécimes de Dreadnoughtus explica a sua completude extraordinária. A desgraça deles foi a nossa sorte”. [Phys]