A clássica pergunta “é menino ou menina?” pode estar com os dias contados. Isso se a moda lançada por um casal canadense vingar.
Kathy Witterick e David Stocker resolveram não contar para ninguém o sexo de seu bebê. Mas, paradoxalmente, a tentativa de neutralidade transformou o gênero em um assunto ainda maior.
De acordo com os pais, apenas eles próprios, seus dois filhos mais velhos e algumas outras pessoas sabem o sexo verdadeiro de Storm, seu bebê de quatro meses de idade. Em um e-mail enviado para amigos e familiares, Witterick e Stocker escreveram: “Nós decidimos não compartilhar o sexo de Storm por enquanto – um tributo à liberdade de escolha no lugar da limitação, um exemplo do que o mundo poderia se tornar durante a vida de Storm (um lugar de mais progresso…?).”
Os destinatários do e-mail ficaram perplexos. Não apenas as pessoas que receberam a mensagem eletrônica como também a opinião pública se dividiu quanto às futuras consequências dessa decisão para Storm. Como Victoria Pynchon escreveu para a revista Forbes, muitas vezes nós julgamos os pais que educam seus filhos em meios não tradicionais. Pelo menos Witterick e Stocker estão tentando “abrir a seus filhos todas as possibilidades imagináveis”, e não limitá-las, diz.
No entanto, a psicóloga Diane Ehrenshaft está preocupada com a abordagem. “Eu acredito que a decisão coloca, sim, restrições sobre esse bebê porque, nesta cultura, ele (ou ela) será uma pessoa singular, a única que não terá a oportunidade de encontrar seu sexo verdadeiro, com base no que está dentro dela”.
Ehrenshaft teme que, em vez de libertar Storm de categorias, Witterick e Stocker estão apenas colocando seu bebê em uma nova categoria – algo como “outros”, o que é ainda mais difícil de lidar do que a dicotomia homem-mulher.
De fato, é difícil dizer se a abordagem de Witterick e Stocker é verdadeiramente libertadora. Seus dois filhos mais velhos são dois rapazes, isso não é segredo, mas ambos escolhem seu estilo de cabelo e como se vestir. O resultado é que Jazz, de apenas 5 anos, se veste sempre de rosa, usa tranças e é frequentemente confundido com uma menina – às vezes Jazz é chamado de “princesa” por pessoas que não sabem seu real gênero. Por isso, ele parece levar uma vida dominada por, e não liberado de, gêneros.
Ou seja, na ânsia de eliminar a questão do gênero da vida de seus filhos, o casal canadense parece ter feito exatamente o contrário: a não conformidade de gênero está no centro das vidas de suas crianças de uma forma que não estaria se eles tivessem deixado a questão mais “tradicional”, como todos os demais genitores do planeta. Como as crianças – e agora principalmente o bebê ainda sem gênero – vão reagir ao comportamento incomum do casal, só o tempo nos dirá.[Jezebel]