O El Niño que causou desequilíbrio de chuvas e temperatura no mundo todo em 2015 e no primeiro semestre de 2016 finalmente mostra sinais de finalização. Meteorologistas observam que temperaturas, ventos e pressão do ar no Oceano Pacífico voltaram ao normal, da mesma forma que aconteceu no final dos El Niños de 1998 e 2010.
Apesar de ter voltado a níveis considerados normais, a temperatura continua mais alta do que nos El Niños anteriores. A expectativa agora é que o resfriamento do oceano continue, com pouca chance do retorno do fenômeno climático tão cedo.
O El Niño de 2015-2016 está entre os três mais fortes desde 1950. Isso significa que seus efeitos globais foram maciços. O ano de 2015 foi um dos mais quentes registrados, e marcações até agora indicam que 2016 pode ser ainda mais quente.
Confira as consequências do fenômeno por região:
América Central e do Sul
Quem acompanhou o noticiário ou quem vive nas regiões Central e Norte do Brasil deve se lembrar que os incêndios florestais em 2015 foram terríveis, especialmente na região da Amazônia. Enquanto isso o Sul e Sudeste tiveram problemas com excesso de chuvas.
O Peru e Equador passaram por enchentes e deslizamento de terra no início de 2016. A produção de camarão no Equador foi afetada pelo clima.
Em janeiro de 2016, o noroeste da Argentina enfrentou o maior ataque de gafanhotos em 60 anos. Isso aconteceu porque o inverno de 2015 foi indefinido e com muitas chuvas, o que causou a grande reprodução dos insetos.
O Caribe, Cuba, Barbados, República Dominicana e Porto Rico também passaram por seca e falta de água.
América do Norte
Os moradores da Califórnia esperavam que o El Niño trouxesse alívio para os anos de seca. Apesar de ter recebido fortes chuvas pontuais que causaram deslizamentos, o fenômeno não aliviou muito a situação geral. Águas mais quentes na costa do estado trouxeram animais que não são comuns à área, como tubarões-martelo.
Na região sul do país a precipitação foi maior que o normal e o Rio Mississipi enfrentou cheias. O Missouri teve três vezes mais chuva que o normal no final de 2015.
Ásia
As Filipinas enfrentaram seca em 85% do país. A Indonésia teve sua primeira seca em 18 anos. Incêndios florestais pioraram a qualidade do ar em locais como Singapura, Malásia e sul da Tailândia.
Na Bacia do Mekong, um dos maiores rios do mundo, monções atrasadas reduziram a produção de arroz. O Vietnam foi muito afetado. A plantação de arroz da Tailândia foi atrasada pela falta de água e racionamento. O país diminuiu a exportação do grão em dois milhões de toneladas. Isso fez com que países africanos aumentassem a importação, com medo de um aumento no preço.
A China enfrentou secas no norte e muita chuva no sul, com enchentes e deslizamentos.
Na Índia, monções abaixo da média entre junho e setembro levaram a uma menor produção de arroz, milho, algodão e açúcar. Mumbai enfrentou falta de água como resultado de dois anos de pouca chuva. Phalodi registrou recorde de temperatura, com 51° C.
Austrália
O El Niño é geralmente associado com secas na Austrália, mas este foi diferente. Ele começou com a esperada seca, mas entre abril e agosto de 2015 acabou se transformando em chuvas acima da média. Depois veio uma seca recorde, que impactou a agricultura local.
O país também enfrentou três ciclones tropicais e o aumento da temperatura da superfície do mar arrasou a Grande Barreira de Corais (o maior recife do mundo), que teve 95% de seus corais branqueados. Isso acontece quando as colônias perdem sua cor como resultado do estresse ambiental. A expectativa é que metade morra nos próximos meses.
África
A seca que atingiu a África teve como consequência a redução da produção de alimentos em seis milhões de toneladas – a menor desde 1995. As regiões mais secas de Zimbabwe perderam 75% de suas plantações. Em maio de 2016, os parques nacionais do país chegaram à medida drástica de colocar algumas espécies de animais selvagens à venda para salvá-los da morte pela seca.
O preço do chocolate bateu recordes como resultado da produção de cacau perdida pelo maior produtor do fruto, Costa do Marfim.
A seca também foi cruel na Etiópia, que viu 10 milhões de seus habitantes precisando de ajuda para alimentação. A Tanzânia também perdeu plantações inteiras.
Em dezembro de 2015 a região leste da África registrou epidemia de Febre do Vale do Rift, um vírus transmitido por mosquito que se reproduz em água parada. Quênia também sofreu com a cólera. [IFLScience, BBC, ABC]