Hoje em dia, os automóveis são tão cheios de aplicativos que “transporte” para ser a última de suas funções. De pontos de acesso a internet a encostos de cabeça para TVs de última geração, cada vez mais carros vêm carregados de alta tecnologia e acessórios.
Mas, segundo especialistas, mesmo quando os dispositivos são projetados para ajudar os motoristas a manter as duas mãos no volante, toda essa tecnologia pode causar “distrações cognitivas” e se tornarem, em última análise, perigosas.
A Ford está figurando entre as montadoras mais polêmicas com seu recente sistema de comunicações. Uma interface chamada “MyFord Touch”, totalmente controlada por voz, incluindo entretenimentos como AM / FM, rádio por satélite, HD, CD, MP3, e controle de clima, telefone e navegação.
O MyFord Touch também usa o poder de um smartphone para acessar e controlar outras aplicações. Os usuários têm a capacidade de ouvir música a partir de serviços online, ficar em contato com as últimas notícias e checar suas últimas mensagens no Twitter – tudo sem tirar as mãos do volante.
A Ford acredita, dessa forma, estar ajudando a manter as estradas seguras, já que a tecnologia acaba com o uso manual de telefones e outros aplicativos e permite que os motoristas mantenham seus olhos na estrada.
Inclusive, de acordo com um estudo recente conduzido pela Ford, o novo sistema reduziu significativamente o nível de distração dos motoristas que o utilizaram para discar um número ou escolher uma canção, em comparação com os que usaram dispositivos manuais.
Eles mediram o tempo que os motoristas passaram olhando para a estrada, o desvio de posição, a variação de velocidade e tempo de resposta dos motoristas para identificar as diferenças entre a atenção e o desempenho de condução durante o uso da nova tecnologia.
A Ford revelou que os motoristas “serpentearam” sobre as linhas da pista em mais de 30% dos testes usando telefones portáteis e rádios convencionais, em comparação com 0% ao executar as mesmas tarefas com o MyFord Touch.
Outro estudo, da Virginia Tech, acompanhou 109 motoristas por um ano, o que implicou em 43 mil horas e mais de 2 milhões de quilômetros de condução. O relatório mostrou que discar manualmente um dispositivo durante uma condução (tarefa que exige desviar a atenção da estrada) é quase 2,8 vezes mais arriscado do que apenas dirigir. Além disso, quase 80% de todos os acidentes e 65% de todos os quase-acidentes ocorrem pouco depois de um desvio de olhar da pista.
No entanto, segundo especialistas, dizer que a tecnologia da Ford é benéfica para os motoristas é exagero. A tecnologia pode ser isenta do uso de mãos, mas certamente não é isenta de riscos.
O argumento é que as distrações causadas pela nova tecnologia são mentais, especialmente quando se trata de checar sites de redes sociais. Por exemplo, entrar em sites de mídia social exige uma concentração significativamente maior do que fazer uma chamada telefônica.
Checar o Facebook ou enviar um tweet é um processo envolvido em uma conversa complexa que não deve absolutamente ser feito durante a condução.Uma distração de dois segundos é tempo suficiente para alguém se envolver em um acidente. Ou seja, na opinião de alguns estudiosos, os fabricantes de carro estão na verdade provendo uma distração, e não impedindo que alguém se acidente somente pelo fato de não ter que usar as mãos.
Um cientista cognitivo que pesquisa direção distraída concorda que esse tipo de tecnologia nos carros é perigosa. Segundo ele, algumas atividades como ouvir rádio são passivas, mas outras, como enviar mensagens de texto ou verificar o Facebook não são. A mente só consegue fazer uma coisa de cada vez enquanto a pessoa dirige.
Os especialistas em segurança se preocupam especialmente com a instalação de TVs no interior dos veículos, por vezes até nos bancos da frente. Isso só serve para mostrar a falta de seriedade dos motoristas. As distrações podem ser fatais, como o caso do motorista de caminhão que estava assistindo a um filme, bateu acidentalmente e matou uma mulher que estava estacionada no acostamento de uma estrada.
Alguns pesquisadores estão lutando para desativar o uso de certas tecnologias nos automóveis. Uma campanha mostra pessoas nos EUA que foram feridas ou perderam entes queridos em acidentes de direção distraída. Em 2009, cerca de 5.500 pessoas morreram e meio milhão de pessoas ficaram feridas em acidentes envolvendo um motorista distraído.
Os especialistas acreditam que é um grande desafio político-social impedir o uso dessas tecnologias já que dezenas de bilhões de reais estão em jogo. As empresas de eletrônicos, automóveis e outras têm muito a perder.
Mas eles continuam alertando que dirigir não é hora de se envolver em outras atividades. Segundo os especialistas, as pessoas sabem, no fundo, que não devem participar desses tipos de distrações, mas quando tentam algumas vezes, porque estão entediadas, e nada de ruim acontece, elas pensam que estão seguras. No entanto, é fundamental que as pessoas se concentrem apenas em dirigir; afinal, esse não é o momento certo para se divertir. [LiveScience]