Os seres humanos são notáveis por usar espelhos diariamente para observar a própria imagem, mas não somos os únicos seres capazes de nos reconhecer em superfícies reflexivas.
Pesquisadores têm estudado a auto-reconhecimento em diversas espécies desde os anos 1970, começando com pesquisas envolvendo chimpanzés. Esses estudos expandiram-se para incluir uma variedade de animais, desde formigas até arraias-manta e papagaios cinzentos africanos, todos analisados quanto à sua capacidade de reconhecer a própria imagem em um espelho. Enquanto alguns demonstraram consciência de si mesmos, muitos não o fizeram, e alguns apresentaram comportamentos ambíguos.
Esses resultados divergentes deram origem a debates no meio científico sobre a eficácia desses testes para entender a cognição animal.
Frans de Waal, um primatologista da Universidade de Emory, que realizou testes de autoconsciência em macacos capuchinhos (que não obtiveram sucesso), destacou a importância de um comportamento espontâneo nesses testes. Ele apontou que muitos estudos não seguem o critério de autoinspeção espontânea sem treinamento ou recompensas.
Quais animais foram bem-sucedidos nesse teste?
Nos experimentos de 1970 com chimpanzés, eles foram anestesiados e marcados com tinta vermelha no rosto. Ao despertarem, examinaram as áreas marcadas no espelho, demonstrando reconhecimento próprio.
Atualmente, o teste da marca é considerado a prova mais conclusiva de autoconsciência em frente ao espelho. Além dos chimpanzés, outros grandes primatas, como orangotangos e bonobos, também passaram no teste. Os bonobos utilizaram espelhos para inspecionar partes do corpo normalmente ocultas. Já os resultados com gorilas foram menos claros. Macacos geralmente veem seu reflexo como outro animal, embora alguns estudos controversos tenham mostrado que certas espécies podem se reconhecer após treinamentos intensivos.
Isso levantou questões, como apontado pela psicóloga cognitiva Ellen O’Donoghue, da Universidade de Cardiff. Ela questiona se o treinamento compromete a validade dos testes de espelho para as espécies que dele necessitam.
Um elefante asiático no Zoológico do Bronx e golfinhos estão entre os poucos mamíferos não primatas que passaram no teste do espelho. Golfinhos demonstraram essa capacidade em estudos que usaram tanto vídeo quanto espelhos.
Em 2008, magpies eurasianas se tornaram os primeiros não mamíferos a mostrar potencial reconhecimento no espelho. Pombos também passaram, mas somente após um período significativo de treinamento. Pinguins Adélie selvagens exibiram sinais de autoconsciência, embora não tenham reagido a bibes coloridos usados no lugar de marcas no corpo.
Os testes com animais de ordem inferior são particularmente controversos. Formigas e peixes, incluindo arraias-manta e labrídeos limpadores, exibiram comportamentos que sugerem auto-reconhecimento, mas as interpretações desses comportamentos são debatidas.
O sucesso desses organismos menos complexos nos testes de espelho, em contraste com o fracasso de alguns animais altamente inteligentes, como os papagaios cinzentos africanos, desafia a confiabilidade do teste. Isso levanta dúvidas sobre se esses testes refletem verdadeiramente uma autoconsciência no sentido humano ou apenas uma consciência corporal sofisticada.
O’Donoghue comentou à Live Science que a autoconsciência pode não ser um conceito binário, mas mais um espectro, e que o teste do espelho pode medir apenas um aspecto dela. [Live Science]