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Esqueça seus problemas: pílula pode apagar memórias ruins

Boa notícia para quem assistiu ao filme “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” e se identificou com o personagem que procurava uma forma de deletar memórias. O procedimento não é exatamente igual ao da ficção, mas quase.

Se você pudesse, tomaria uma pílula que apagasse suas memórias mais dolorosas? Para a maioria de nós, seria difícil optar por perder peças do nosso passado, mas para quem possui problemas realmente sérios, como transtorno de estresse pós-traumático, a tal pílula pode trazer um grande alívio.

Em um estudo que se parece muito com uma cena do filme, os pesquisadores mostraram que a medicação pode realmente ajudar a apagar más lembranças.

Eles contaram com a presença de 33 estudantes universitários, que assistiram a uma apresentação de vídeo cuja história mostrava uma pequena menina sofrendo um terrível acidente durante sua visita à casa dos avós. Enquanto a menina e seu avô estavam construindo uma casa de passarinho, uma serra acabou cortando uma das mãos da menina. Uma das fotos mostradas aos voluntários do estudo é de sua mão mutilada.

Embora a mão da garota acabasse sendo salva no hospital e a história tivesse um final feliz, a apresentação é psicologicamente difícil de ser encarada porque tende a provocar nos espectadores sofrimentos emocionais, explica a autora do estudo, Marie-France Marin. “Não é divertido de assistir”, explica. “O vídeo é carregado de uma grandes emoções, complicadas de digerir”.

Antes do vídeo, Marin havia instruído seus voluntários a assistir com muito cuidado a apresentação. Depois, ela e seus colegas coletaram amostras de saliva para medir níveis do hormônio do estresse, o cortisol.

Três dias depois, os voluntários do estudo voltaram ao laboratório. Alguns deles haviam recebido um placebo, enquanto o resto havia ingerido uma de duas doses de uma droga que controla e limita a quantidade de cortisol circulando no corpo.

A teoria é de que o cortisol está de alguma forma envolvido na preservação de memórias, especialmente aquelas carregadas de emoção, explica Marin. Ao reduzir a quantidade de cortisol no organismo, os cientistas talvez sejam capazes de mexer com a memória – mesmo depois que ela já tenha sido criada e armazenada no cérebro.

Quando Marin pediu aos voluntários que tentassem se lembrar do vídeo de apresentação, aqueles que tinham recebido a droga para o controle do cortisol tiveram maior dificuldade para recordar os detalhes mais dolorosos. Quanto maior a dose, mais difícil se tornava a tarefa de recordar.

Quatro dias depois, os voluntários retornaram ao laboratório. Surpreendentemente, o impacto da droga sobre a memória ainda era aparente: voluntários que a tomaram continuavam apresentando dificuldades em lembrar as cenas emocionalmente intensas.

Marin espera que o estudo possa um dia ajudar pessoas que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático (TSPT). Ela suspeita que, no ambiente certo, a droga pode ajudar a diminuir a potência do evento traumático que desencadeou a situação. A ideia é que o paciente retome o assunto do evento com um psicoterapeuta, depois de ter tomado a droga.

Uma das conclusões mais intrigantes do estudo é o fato de que as lembranças não são tão sólidas e imutáveis como imaginamos. Cada vez que pensamos sobre elas em nossas mentes parece haver uma chance de “editar” o que aconteceu, conta Marin.

“Isso significa que realmente podemos mudá-las ou mesmo criar falsas memórias”, observa. “É uma questão que deve ser investigada. Ainda podemos mudar as memórias uma vez que já estão formadas? Parece que sim. E isso levanta questões éticas quando se trata de testemunhas de um crime, por exemplo”, cita.[MSN]

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