Uma equipe internacional de astrônomos descobriu um planeta gigante em torno de uma estrela minúscula que, de acordo com o que sabemos sobre a teoria de formação dos planetas, não deveria existir.
GJ 3512b
O sistema fica a 284 trilhões de quilômetros de distância de nós.
O planeta, nomeado GJ 3512b, é semelhante a Júpiter e comparativamente bem maior que sua estrela hospedeira, uma anã vermelha tipo M, uma das mais comuns em nosso universo.
A estrela tem uma massa maior que o seu planeta, mas a diferença entre eles é bem menor do que a que existe entre o sol e Júpiter. Por exemplo, a anã vermelha é 270 vezes mais massiva que GJ 3512b, enquanto o sol é 1.050 vezes mais massivo que Júpiter.
“É emocionante, porque há muito tempo nos perguntamos se planetas gigantes como Júpiter e Saturno podem se formar em torno de estrelas tão pequenas”, explicou Peter Wheatley, da Universidade de Warwick (Reino Unido), que não participou do estudo, à BBC.
A resposta parece ser sim.
Desafiando modelos
A descoberta questiona uma teoria amplamente aceita sobre a formação de planetas, conhecida como “acreção central”. De acordo com ela, apenas planetas como a Terra, ou um pouco maiores, deveriam se formar em torno de anãs vermelhas, conforme mais poeira se juntasse ao disco de acreção em torno da estrela.
“GJ 3512b, no entanto, é um planeta gigante com uma massa cerca da metade do tamanho de Júpiter e, portanto, pelo menos uma ordem de magnitude mais massivo que os planetas previstos pelos modelos teóricos para essa estrela tão pequena”, esclareceu Christoph Mordasini, professor da Universidade de Berna (Suíça), à BBC.
Uma hipótese para explicar como isso seria possível é que, ao invés de atrair gás para si e formar planetas em seu torno, parte do disco da estrela se colapsaria rapidamente, formando um planeta gigante.
Isso só poderia ocorrer se o disco de acreção tivesse um décimo da massa da estrela hospedeira, e o fenômeno se passaria mais longe dela do que a formação de planetas por acreção central.
Os pesquisadores, inclusive, argumentam que o GJ 3512b “migrou” uma longa distância até sua posição atual, que é menor do que uma unidade astronômica (150 milhões de quilômetros) de sua estrela.
Abrindo novos caminhos
O novo estudo é muito importante para direcionar pesquisas futuras e a criação de novos modelos, uma vez que o GJ 3512b é o maior planeta que orbita uma estrela tão pequena de perto já descoberto.
Ele possui uma órbita oval de 204 dias em torno da anã vermelha, passando mais tempo perto dela do que Mercúrio do sol. Isso, por sua vez, pode sugerir a presença de outros planetas gigantes orbitando a estrela de mais longe, o que pode ter distorcido sua órbita.
“Com o GJ 3512b, agora temos um candidato extraordinário para um planeta que poderia ter surgido da instabilidade de um disco em torno de uma estrela com muito pouca massa. Essa descoberta nos leva a revisar nossos modelos”, resumiu um dos autores do estudo, Hubert Klahr, do Instituto Max Planck de Astronomia (Alemanha).
Um artigo sobre o estudo foi publicado na revista científica Science. [BBC]