Encontrar vida fora da Terra tem se mostrado um grande desafio. Tudo bem que só conhecemos poucos dos planetas, satélites e estrelas que existem no universo, mas, ainda assim, tudo que encontramos parece estéril considerando o padrão – e a diversidade – de vida encontrado no nosso planeta.
Talvez esse seja então o problema: nós queremos encontrar vida exatamente como a conhecemos. Mas o que é, exatamente, vida? Somos só nós, os outros animais, as bactérias?
Parte do nosso problema em encontrar vida é que não temos uma boa definição do que é a vida. “Normalmente, nossa forma de identificar a vida na Terra é através da presença de DNA no organismo”, disse Sara Walker, astrobióloga da Universidade do Arizona (EUA).
Porém, essa é uma definição química que pode limitar a busca de vida extraterrestre, além de incluir, erroneamente, sistemas não vivos nessa classificação, como uma placa de Petri cheia de DNA autorreplicante.
“Neste momento, estamos nos concentrando na busca de vida que seja idêntica a nós, com as mesmas moléculas”, afirmou Chris McKay, astrobiólogo da NASA. “Essa abordagem potencialmente estabelece uma estrutura que nos permite considerar outras classes de moléculas orgânicas que poderiam ser a base da vida”.
Por décadas, cientistas tentam recriar os acontecimentos que deram origem à vida no planeta. Na famosa experiência de Miller-Urey relatada em 1953, os cientistas carregaram eletricamente uma sopa primordial de elementos químicos que imitavam a composição química dos oceanos no início do nosso planeta, e descobriram que vários aminoácidos simples, os blocos mais primitivos de vida, se formaram como resultado.
Mas, desde então, os cientistas não avançaram muito na compreensão de como simples aminoácidos podem ter, eventualmente, se transformado em simples, e depois em complexos, seres vivos.
“Na tentativa de explicar como a vida veio a existir, as pessoas têm se concentrado em um problema de química, como se criar vida fosse como fazer um bolo, para o qual nós precisamos de um certo conjunto de ingredientes e instruções para seguir”, disse Paul Davies, físico teórico e astrobiólogo também da Universidade do Arizona. “Essa estratégia não capta a essência do que é a vida”.
Davies e Walker, juntos em uma nova pesquisa, afirmaram que estamos olhando errado para o mistério da origem da vida. Em vez de tentar recriar os blocos de construção químicos que deram origem à vida 3,7 bilhões anos atrás, eles acreditam que devemos usar as principais diferenças na forma como os seres vivos armazenam e processam informações para desvender esse mistério.
Mão dupla
A equipe de cientistas criou um modelo matemático simples para capturar a transição de um ser não vivo para um ser vivo. Segundo os pesquisadores, todos os seres vivos têm uma propriedade que objetos inanimados não têm: fluxos de informação em duas direções. Todos os sistemas vivos são caracterizados por duas vias ou fluxos de informação, tanto de baixo para cima quanto de cima para baixo, em termos de complexidade.
Por exemplo, quando uma pessoa toca um fogão quente, as moléculas de sua mão sentem o calor, transmitem essa informação ao cérebro, e o cérebro, então, diz que para as moléculas da mão se moverem.
Enquanto esse fluxo de informações em dois sentidos governa o comportamento de formas de vida simples e complexas da mesma forma, das menores bactérias às baleias, organismos não vivos não apresentam tal fluxo. Se você colocar um bolo no fogão, o calor pode queimar o bolo, mas ele não vai fazer nada para responder.
Outra característica dos seres vivos é que eles têm diferentes locais físicos para armazenar e ler informação. Por exemplo, o alfabeto de letras no DNA carrega as instruções para a vida, mas outra parte da célula, chamada de ribossomo, é que deve traduzir essas instruções em ações dentro da célula.
Um probleminha desta definição é que, através dela, computadores que armazenam dados em um disco rígido e os lê usando uma unidade de processamento central teria as características de vida – embora isso não signifique que eles estão vivos.
O novo modelo proposto pela equipe ainda está em seu começo e não aponta para novas moléculas que poderiam ter gerado vida em outros planetas, mas estabelece o comportamento necessário que um sistema precisa ter para ser considerado vivo.
“Este é um manifesto”, disse Davies. “É uma maneira de dizer que temos de reorientar e redefinir o assunto, e olhar para ele de uma maneira diferente”.
Vida = processos de informações
Essa não é a primeira vez que um estudo sugere que repensemos a definição de vida sem utilizar elementos químicos.
Uma pesquisa de Christoph Adami afirmou que a vida pode ser definida em termos de processos de informações. Entendendo processos fundamentais que não se referem a um substrato em particular, podemos procurar por vida em outros mundos.
Mesmo na Terra, alguns organismos não se comportam da maneira que definiríamos como vida. Por exemplo, um ser vivo é todo ser que um dia morre. Bom, exceto por um pólipo que pode retroceder para sua forma de embrião e crescer de novo, nunca morrendo. Nesses casos, a vida não é definida através de conceitos com os quais estamos acostumados, mas somente através de processos.
Adami chegou a conclusão de que existe uma certa distribuição de elementos (alguns em alta frequência, porque são úteis, outra em baixa frequência, porque são prejudiciais e só existem no nível do acaso) que é robusta e vista em qualquer situação onde há um sistema vivo. Existe um outro tipo de distribuição visto constantemente onde não há vida.
Essa distribuição não tem a ver com quais elementos estão presentes nela, mas no próprio padrão da distribuição. Em resumo, ele sugere que podemos encontrar vida que não se parece com a nossa usando um “padrão universal de não vida”, e procurando por grandes desvios desse padrão.[LiveScience]