O Pentágono, a principal instituição de defesa dos Estados Unidos, está se adequando aos novos tempos. Na tentativa de criar uma estratégia formal para impedir ataques cibernéticos contra o país, eles planejam por em prática uma nova estratégia em breve – declarar que ataques através de computadores estrangeiros podem ser considerados atos de guerra, o que pode resultar em uma resposta militar estadunidense.
Vários funcionários do governo, em comentários ao longo dos últimos dois anos, têm dado a entender publicamente que o presidente estaria no direito de considerar uma variedade de respostas se o sistema de computação dos Estados Unidos alguma vez fosse severamente atacado. Dentre essas ações estariam sanções econômicas, ciberataques de retaliação ou até mesmo um ataque militar.
A nova estratégia militar, que surgiu a partir de vários anos de debate sobre o modelo de 1950 que tinha como objetivo impedir ataques nucleares, torna explícito que um ciberataque pode ser considerado o equivalente a um ato de guerra mais tradicional. O Pentágono, em outras palavras, declara que qualquer ataque de computador que ameace civis – como por exemplo o corte do fornecimento de energia ou a interrupção da rede de comunicação de hospitais e pronto-socorros – pode ser tratado como um ato de agressão.
A nova política não menciona a forma como os Estados Unidos poderiam responder a um ataque cibernético de um grupo terrorista, ou outros tipos de ameaça. Também não estabelece um limite do quão sério um ciberataque precisa ser para “merecer” uma resposta militar.
Durante a Guerra Fria a política funcionava perfeitamente, uma vez que o Pentágono encontrava poucas dificuldades em determinar rapidamente de onde um ataque estava vindo – e poderia contra-atacar o local específico. No caso de um ataque cibernético, a origem do ataque é quase sempre incerta, assim como aconteceu no caso de 2010, quando um ataque complexo foi feito contra o Google e seus servidores.
Eventualmente, o Google concluiu que o ataque tinha vindo da China. Porém, os oficiais estadunidenses jamais identificaram publicamente o país onde a ofensiva se originou, e muito menos se ela foi ação do Estado ou de um grupo de hackers.
“Uma das questões que temos de nos perguntar é: ‘Como sabemos se estamos em guerra?’”, comenta um ex-funcionário do Pentágono. “Como sabemos quando se trata do Exército da Libertação do Povo ou de apenas um hacker qualquer?”
Um participante do debate mais amplo sobre ciberestratégia do governo acrescenta: “Quase tudo o que aprendemos sobre dissuasão durante os impasses nucleares com os soviéticos nos anos 60, 70 e 80 não se aplica mais nos dias de hoje”.
Funcionários da Casa Branca argumentam que ofensivas militares para responder a um ataque cibernético seriam o “último recurso”, depois de que todos os demais esforços para impedir um ataque tenham falhado. O país também pensa em aplicar outras estratégias e formas de prevenção, contra a ameaça ao seu bem-estar econômico e à sua reputação.[TheNewYorkTimes]