Cientistas da Universidade Northwestern (EUA) acabaram de desenvolver o primeiro exame de sangue capaz de detectar depressão em adultos. Com uma abordagem inovadora, a ideia parece absurda, mas além de obviamente ajudar na determinação de diagnósticos, também terá uma função essencial para que a população, de uma maneira geral, entenda que a depressão é realmente uma doença que requer cuidados médicos especializados.
Exame de sangue identifica depressão em adultos
Como isso funciona?
Esse exame de sangue é capaz de identificar a depressão através da medição dos níveis de nove marcadores sanguíneos RNA. As moléculas de RNA são as mensageiras que interpretam o código genético do DNA e executam ações de acordo com suas instruções.
O exame de sangue também consegue prever quem pode se beneficiar de uma terapia cognitivo-comportamental com base no comportamento de alguns dos marcadores. Esta será uma oportunidade para um tratamento mais eficaz para cada caso de depressão. Não é incrível?
Como se tudo isso não bastasse, o exame também mostrou os efeitos biológicos da terapia comportamental cognitiva, a primeira evidência mensurável de sucesso do tratamento.
O resultado mostrou que esse método atua na veia do problema: os níveis de marcadores mudaram em pacientes que foram submetidos a terapia por 18 semanas, e eles já não eram mais deprimidos.
Isso indica claramente que podemos ter um exame de sangue para identificar a depressão, proporcionando um diagnóstico científico da mesma forma que o da pressão arterial elevada ou colesterol elevado.
Eva Redei, professora de psiquiatria e ciências comportamentais na escola de medicina da Northwestern, foi quem desenvolveu o exame. “Este teste proporciona um diagnóstico de saúde mental no século 21 e oferece a abordagem da medicina personalizada a pessoas que sofrem de depressão”, completa a professora.
O resultado de décadas de pesquisa
A busca por um teste de diagnóstico biológico para a depressão está em curso há décadas. O método atual para diagnóstico da doença é absolutamente subjetivo e baseado em sintomas não específicos, tais como mau-humor, cansaço excessivo, falta de vontade de sair de casa ou de conviver com outras pessoas, alterações no apetite, etc. Os mesmos sintomas podem ser aplicados a uma série de outros problemas mentais ou físicos que não são necessariamente depressão. Além disso, esse diagnóstico depende da capacidade do paciente em relatar seus sintomas e da capacidade do médico em interpretá-los. Ou seja: é uma loteria.
Com o novo exame de sangue, os médicos poderão, pela primeira vez, utilizar testes de laboratório para determinar não apenas o diagnóstico, como também quais tratamentos serão mais úteis para cada paciente.
Atualmente, sabemos que o tratamento medicamentoso é eficaz, mas não para todos os pacientes. Do mesmo jeito, psicoterapia é eficaz, mas não para todos. Os médicos também sabem que tratamentos combinados são mais eficazes do que um tratamento sozinho, mas talvez essa combinação de terapias acabe resultando em uma abordagem dispersa.
Como esse exame de sangue foi desenvolvido
O estudo para o desenvolvimento desse exame contou com a participação de 32 pacientes com idades entre 21 e 79 anos que tinham sido diagnosticados de forma independente como deprimidos em uma entrevista clínica, e 32 pacientes não deprimidos na mesma faixa etária.
Alguns dos pacientes tinham tomado antidepressivos a longo prazo, mas ainda eram considerados deprimidos. Todos os 64 pacientes também estavam participando de um estudo relatado anteriormente comparando a eficácia do tratamento cara-a-cara e de uma terapia cognitivo-comportamental administrada pelo telefone.
No início do estudo antes da terapia, os cientistas da Universidade Northwestern encontraram nove marcadores sanguíneos RNA significativamente diferentes nos pacientes deprimidos. Estes marcadores, então, foram capazes de diagnosticar a depressão.
Após 18 semanas de tratamento (presencial e por telefone), os níveis alterados de certos marcadores poderiam diferenciar os pacientes que responderam positivamente ao tratamento e já não estavam mais deprimidos dos pacientes que continuaram deprimidos. Este é o primeiro indicador biológico do sucesso da terapia cognitivo-comportamental, disseram os autores do estudo. [Sciencedaily]