A nova ciência sugere que a fonte de habilidades é muito mais interessante e improvisada do que inata. Frases como “atleta nato” e “inteligência natural”, que há tempos haviam concluído que o talento é uma coisa genética que nasce com a pessoa, estão por fora.
Acontece que tudo o que somos é um processo de desenvolvimento, e isso inclui o que nós recebemos de nossos genes. Um século atrás, os geneticistas viam os genes como “fixos”, sempre proferindo as mesmas linhas exatamente da mesma maneira. Nos últimos anos, porém, os cientistas acrescentaram uma atualização no seu entendimento da hereditariedade.
Agora, os pesquisadores sabem que os genes interagem com o meio ao seu redor, se “ligando e desligando” o tempo todo. Os mesmos genes têm efeitos diferentes dependendo até de com quem eles estão falando.
Não há gene que funcione independente dos fatores ambientais, e vice versa. Um traço de personalidade só surge da interação entre genes e ambiente. Isso significa que tudo sobre nós – nossa personalidade, nossa inteligência, nossa capacidade – é na verdade determinado pela vida que levamos.
Cada animal começa a sua vida com a capacidade de se desenvolver em uma série de maneiras distintas. O que você vai desenvolver se dá e é selecionado pelo ambiente no qual está crescendo.
Mas os genes certamente importam. Somos todos diferentes e temos potenciais diferentes. Por exemplo, não há qualquer possibilidade de alguém ser o Cristiano Ronaldo. Apenas o Cristiano Ronaldo criança tem a chance de ser o Cristiano Ronaldo que conhecemos hoje. Mas também temos que entender que ele poderia ter virado uma pessoa muito diferente, com diferentes habilidades. Sua magnificência no futebol não foi esculpida em pedra genética.
A noção de um QI fixo é outra que está mudando. Pesquisadores de talento e cientistas concordam que a inteligência representa um conjunto de competências em desenvolvimento.
Grandes acadêmicos não nascem mais inteligentes do que os outros, mas se esforçam mais e desenvolvem mais auto-disciplina. Além disso, os escores de QI têm aumentado ao longo do século, o que pode ser devido ao aumento da sofisticação cultural. Em outras palavras, todos nós temos ficado mais espertos porque nossa cultura nos aguçou.
Ainda mais profundamente, pesquisadores concluíram que os alunos que entendem que a inteligência é maleável ao invés de fixa são muito mais intelectualmente ambiciosos e bem sucedidos.
O mesmo se aplica ao talento. Isso explica por que os melhores corredores, nadadores, ciclistas, jogadores de xadrez e violinistas de hoje são muito mais hábeis do que em gerações anteriores. Todas essas habilidades são dependentes de um processo lento e gradual que várias micro-culturas descobriram como melhorar.
Até recentemente, a natureza dessa melhora era meramente intuitiva. Mas nos últimos anos, todo um novo campo de “estudos de especialização” tem entendido cada vez melhor como as diferentes atitudes, estilos e tipos de ensino e prática de exercício levam as pessoas ao longo de caminhos muito diferentes.
Seria uma loucura sugerir que qualquer pessoa pode literalmente fazer ou ser qualquer coisa. Mas a nova ciência diz que é igualmente tolo pensar que a maioria de nós está condenada a mediocridade.
Nossas habilidades não são definidas pela genética. Elas são moldáveis. Com humildade, esperança e determinação, a grandeza é algo que qualquer pessoa pode aspirar. [BBC]