Seja cuidadoso na próxima vez que você limpar a caixinha de areia de seu felino – o cocô de gato pode transportar um perigoso parasita que parece estar muito mais disseminado do que se pensava, afirmam pesquisadores.
Os gatos, apenas nos Estados Unidos, liberam cerca de 1,2 milhões de toneladas de fezes no meio ambiente a cada ano. O cocô do gato pode carregar o parasita Toxoplasma gondii, um organismo unicelular que cria agentes infecciosos, chamados oocistos. Estes oocistos podem infectar mulheres grávidas, causando problemas congênitos no bebê, como surdez, convulsões, lesões oculares e retardo mental. O parasita também infecta as pessoas com sistemas imunológicos comprometidos, como os portadores do vírus HIV, causador da Aids.
A toxoplamose é também conhecida como “doença do gato” porque o protozoário Toxoplasma gondii completa o seu ciclo biológico somente na família dos felinos, da qual o gato é um dos integrantes. Em outras palavras, é somente nos felinos que o protozoário produz os seus ovos.
Depois de analisar estudos anteriores sobre o parasita, uma equipe de pesquisadores acredita que ele pode ser um problema significativo de saúde pública, infectando pessoas saudáveis. Outros estudos chegam a ligar o parasita à esquizofrenia, à depressão, a comportamentos suicidas e a um desempenho escolar mais baixo em crianças.
Nos últimos cinco anos, os pesquisadores têm estudado quanto tempo os oocitos permanecem no ambiente. “O que acontece com esses oocistos em parques infantis?”, se pergunta o pesquisador Fuller Torrey, psiquiatra do Centro Médico da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, Estados Unidos. “Eu analisei em conjunto os dados que temos e achei perturbador”.
Torrey e seus colegas revisaram estudos do parasita. O número de gatos nos Estados Unidos está crescendo – entre os domésticos, aumentou de 55 para 80 milhões entre 1989 e 2006, e o número de gatos selvagens é estimado entre 25 e 60 milhões. Estudos mostram que cerca de 1% dos animais hospedam os oocistos em um dado momento da vida. Estes oocistos, por sua vez, podem sobreviver durante pelo menos um ano e meio, e um único oocito é necessário para causar uma infecção, de acordo com pesquisas anteriores.
Outros animais, como ovelhas e bovinos, também podem adquirir o parasita ao ingerir as fezes de gatos infectados. Os seres humanos podem adquiri-lo ao comer animais crus ou mal cozidos que estejam contaminados. Em países como a França ou a Etiópia, onde o alimento cru é mais comum, a incidência de infecções é muito maior, segundo o próprio Torrey. As pessoas também se contaminam por meio de fontes de água infectadas.
Torrey afirma que há muito tempo já se sabe que o parasita consegue sobreviver na caixa de areia de gato, por até 48 horas. Crianças podem se contaminar ao brincarem na areia, assim como jardineiros correm esse risco ao lidar com hortas, uma vez que os gatos muitas vezes usam esses locais para se aliviarem.
“É um parasita extremamente complexo. Ele é muito mais complicado do que um vírus, e tem muitos mais genes”, explica Torrey. O micróbio é notoriamente conhecido por infectar ratos e mudar o seu comportamento, levando-os a ter menos medo do cheiro da urina de gatos. Dessa forma, os ratos viram quase suicidas e se expõem mais a seus predadores. Os gatos têm a vida facilitada para comer os ratos e os parasitas retornam ao seu hospedeiro felino.
Até existe tratamento para a toxoplasmose, mas nenhum é muito eficaz, diz Torrey. Mais pesquisas são necessárias para compreender os riscos do parasita. Nesse meio tempo, Torrey defende o controle da população de gatos, especialmente dos selvagens. No mais, valem aquelas regras que aprendemos nas aulas de ciências na escola:
• O cocô de gatos domésticos deve ser devidamente descartado no lixo, e não jogados na privada, uma vez que, desta forma, as fezes podem contaminar lagos e rios.
• Parquinhos para crianças ou áreas de lazer que contenham areia devem ser cobertos quando não estiverem em uso. Gatos de rua ou domésticos, mas que costumam sair da casa à noite, muitas vezes escolhem essas áreas para fazerem suas necessidades. Nos estudos analisados pelos cientistas, foram encontradas concentrações muito elevadas de oocistos de Toxoplasma gondii nessas áreas.
• Jardineiros devem sempre usar luvas, já que jardins são um outro lugar favorito para os gatos se aliviarem. Um estudo relatou que os jardineiros podem ter até 100 oocistos nos restos de terra que ficam sob as unhas.
• Vegetais plantados em hortas devem ser cuidadosamente lavados. [Live Science e CNN]