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Futurologia é arte divinatória?

Na esteira de nosso artigo da semana passada sobre o possível investimento bilionário da União Europeia na elaboração de sistemas capazes de prever o futuro, muitos de meus leitores questionaram se o termo futurologia se refere realmente a algo científico.

Existe muita confusão nessa área em virtude da ação, nem sempre honesta, de algumas pessoas e de algumas instituições que praticam algum tipo de arte divinatória e a denominam – de forma equivocada – Futurologia.
Futurologia é uma ciência.

Seu principal foco de estudo é o futuro. Não se destina a prever o que vai acontecer no futuro e sim o que pode acontecer no futuro.

A futurologia utiliza-se dos dados colhidos durante os movimentos históricos do passado e do presente buscando linhas norteadoras de tendências apoiadas em pontos chaves. Pontos que podem indicar padrões. Padrões que podem indicar possibilidades.

São inferências fundamentadas na razão, tendo a observação, a lógica matemática e a estatística compondo seu mais importante instrumental.

Num exemplo singelo do nosso cotidiano, quando buscamos uma estratégia para escapar dos engarrafamentos típicos do horário de “rush” estamos usando um determinado conjunto de inferências fundamentado no conhecimento prévio de um padrão.

Sabemos que todos os dias úteis entre 18h00min e 20h00min ocorrem engarrafamentos nas ruas que compõe o trajeto do local de trabalho até a residência. Assim, para evitar a perda de tempo no trânsito podemos decidir:

1. Sair mais cedo do trabalho, ou
2. Sair mais tarde do trabalho, ou
3. Buscar um trajeto alternativo com menor fluxo de veículos.

E assim por diante.

Em qualquer alternativa utilizamos os recursos da observação, da terminação de padrões e de exercícios de lógica, construindo inferências, obviamente fundamentados na razão. E a partir daí traçamos um plano de contingência para evitar esse futuro.

Como podemos ver, a futurologia constrói cenários por meio da conjugação de possibilidades pelas quais se busca a antecipação de evoluções, de crises, etc. – daí sua grande proximidade com a estratégia.

Sua linguagem é clara e objetiva sendo geralmente apoiada por índices de probabilidade.

Por exemplo:

Entre as 18h00min e 20h00min a chance de que ocorram engarrafamentos na Marginal Tietê em São Paulo nos dias úteis de dezembro de 2013 é de 99,99%.

– Meu plano de contingência para esse caso seria o de fazer “ happy hour” com os amigos em um café próximo do escritório até o horário do “rush” passar.

Por outro lado as artes divinatórias buscam prever o futuro valendo-se de forças ou poderes sobrenaturais, tendo como base um oráculo e/ou recursos “místicos”, tais como bolas de cristal, cartas de tarot, búzios, tábuas ouija, pêndulos, tábuas astrológicas, etc., fundamentando-se na fé de seus praticantes pela respectiva arte.

Sua linguagem é geralmente simbólica, cifrada ou hermética.

Assim meu caro leitor quando receber um folder com os dizeres:

Madame Zucreide Futuróloga
Prevê o futuro valendo-se do Fantástico Tarot Jedi

Leia-se:

Madame Zucreide Cartomante
Prevê o futuro valendo-se do fantástico tarô Jedi

Com isso você evitará confundir uma ciência com um dos tipos mais comum de fé em arte divinatória – que é a fé nas cartas do tarô.

Longe de querer esgotar o assunto, paro por aqui, rogando ao leitor que pratica qualquer arte divinatória, ou que estuda o assunto, que aponte as demais diferenças que não foram nesse artigo apresentadas.

-o-

[Imagem: Bola de Cristal – Javier Pais ]

 

[Leia os outros artigos de Mustafá Ali Kanso]

 

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Navegando entre a literatura fantástica e a ficção especulativa Mustafá Ali Kanso, nesse seu novo livro “A Cor da Tempestade” premia o leitor com contos vigorosos onde o elemento de suspense e os finais surpreendentes concorrem com a linguagem poética repleta de lirismo que, ao mesmo tempo que encanta, comove.

Seus contos “Herdeiros dos Ventos” e “Uma carta para Guinevere” foram, em 2010, tópicos de abordagem literária do tema “Love and its Disorders” no “4th International Congress of Fundamental Psychopathology.”

Foi premiado com o primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos da Scarium Megazine (Rio de Janeiro, 2004) pelo conto Propriedade Intelectual e com o sexto lugar pelo conto Singularis Verita.

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