Desde o lançamento do Telescópio Espacial Hubble, em abril de 1990, astrônomos têm conseguido enxergar melhor o espaço. Quanto mais eles olham, mais podem visualizar o passado e entender como era o Universo há bilhões de anos.
Recentemente um grupo internacional de astrônomos identificou uma galáxia em espiral localizada a 11 bilhões de anos-luz daqui, com a ajuda do Telescópio Gemini North (Havaí). Graças à recente tecnologia que combinou lentes gravitacionais e espectrografia, eles conseguiram ver um objeto que existia há apenas 2.6 bilhões de anos depois do Big Bang. Isso torna essa galáxia, conhecia como A1689B11, a galáxia espiral mais distante já identificada.
Um artigo científico sobre a descoberta foi publicado na revista The Astrophysical Journal, com o título “A mais antiga galáxia em espiral”. Os pesquisadores são da Universidade de tecnologia de Swinburne (Austrália), do ASTRO 3D (Austrália), da Universidade de Lyon (França), Universidade de Princeton (EUA) e a Instituto Racah de Física (Israel).
Lentes gravitacionais
A técnica de lentes gravitacionais tem sido importante para astrônomos, e envolve usar grandes objetos, como um aglomerado de galáxias, para torcer e magnificar a luz de uma galáxia localizada atrás dela.
Na imagem acima, a galáxia A1689B11 está atrás de um aglomerado massivo de galáxias que atuam como se fossem um tipo de lente, produzindo duas imagens magnificadas da galáxia em espiral em diferentes posições no céu.
“Essa ténica nos permite estudar galáxias anciãs em alta resolução com detalhes sem precedentes. Nós conseguimos ver 11 bilhões de anos atrás no tempo e testemunhar diretamente a formação da primeira galáxia espiral primitiva ”, diz Tiantian Yuan, o pesquisador principal em uma nota para a imprensa.
Então eles utilizaram o telescópio Gemini para verificar a estrutura e a natureza de seu espiral. Graças à esta descoberta, astrônomos agora têm pistas extras sobre como as galáxias adquirem a forma que hoje é familiar para nós.
Transição de formatos
Com base no esquema de classificação do famoso astrônomo Edwin Hubble, galáxias são divididas em três classes amplas, com base em seus formatos: elíptico, lenticular e espiral – sendo que há uma quarta classe reservada para galáxias com formatos irregulares.
De acordo com este esquema, galáxias começam como estruturas elípticas antes de se tornarem espiraladas, lenticulares ou irregulares. Assim, a descoberta de uma galáxia espiralada tão antiga é muito importante para determinar quando e como as primeiras galáxias passaram de elípticas para suas formas modernas.
“Estudar espirais antigas como a A1689B11 é chave para acessar o mistério de como e quando as sequências de Hubble emergem. Galáxias em espiral são excepcionalmente raras no início do Universo, e essa descoberta abre a porta para investigações de como as galáxias mudam de caóticas e turbulentas para discos tranquilos como o da nossa Via Láctea”, diz o co-autor da pesquisa, Renyue Cen, da Universidade de Princeton.
A pesquisa também revelou outras informações curiosas: a galáxia está formando estrelas 20 vezes mais rápido do que as galáxias atuais, tão rápido quanto galáxias jovens de massas semelhantes do início do Universo”, diz Yuan. “Porém, ao contrário de outras galáxias da mesma época, a A1689B11 tem um disco fino em rotação calma, com pouca turbulência. Esse tipo de turbulência nunca foi visto nessa época do Universo!”, diz ele.
Agora a equipe quer descobrir quando os braços em espiral se formaram, o que poderia servir como um divisor de águas entre galáxias elípticas antigas e galáxias modernas com formato espiralado, lenticular ou irregular. Eles esperam utilizar dados coletados pelo Telescópio Espacial James Webb, que será lançado em 2019. [Science Alert]